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A Viagem de Chang Ch'ien

[O texto que se segue é uma reprodução da tradução e da conferência realizadas pelo professor Ricardo Mário Gonçalves, e disponibilizada na página do Templo Budista de Apucarana]

Ricardo Mário Gonçalves
Instrutor da Cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP)

A Viagem de Chang Ch'ien e o Início
do controle Chinês da Rota da Seda


Separata dos Anais do V Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História
Comunicação apresentada na 1ª sessão de estudos, Equipe A,  no dia 2 de setembro de 1969.
Campinas - 1971.

Introdução
O estudo da viagem de Chang Ch'ien, primeiro chinês a alcançar a Ásia Ocidental, no século II a.C. é importante por vários motivos. Em primeiro lugar, permite-nos fazer um balanço dos conhecimentos geográficos dos antigos chineses sobre a Ásia Central e Ocidental, dando-nos ainda elementos para completar os conhecimentos que sobre essas regiões fornecem os documentos ocidentais. Em segundo lugar, os relatos de Chang Ch'ien nos apresentam uma série de informações sobre as rotas de comércio da Ásia Central, que, controladas posteriormente pelos chineses, vieram a constituir a chamada Rota da Seda. E em terceiro lugar, as viagens de Chang Ch'ien representam o prelúdio da denominação militar e política dos chineses na Ásia Central, habitat de minorias étnicas muitas vezes de culturas diversas da chinesa e hoje em dia palco dos litígios fronteiriços sino-soviéticos.

1. Fontes
A principal fonte para o estudo da viagem de Chang Ch'ien é o Relato sobre Ta-Yuan, 123ª parte do Shih chi (Memórias Históricas) de Ssu-ma Ch'ien.
Ssu-ma Ch'ien (145?-86? a.C.) pode ser considerado o Pai da História no Oriente, como Heródoto o é no mundo ocidental. Cronista oficial da corte do imperador Wu-Ti (157-87 a.C.) da Dinastia de Han Anterior (206 a.C. - 8 d.C.), com base em toda a documentação conservada nos arquivos imperiais ou pessoalmente recolhida por ele, e sob a influência do Ch’un-Ch'iu (Primavera e Outono), crônica do ducado de Lu escrita com intenções moralizantes e atribuída a Confúcio, escreveu ele suas monumentais Memórias Históricas em 130 partes, abrangendo toda a história política, militar, econômica, social e cultural da China e regiões limítrofes, das origens até o reinado do imperador Wu-Ti. Por seu respeito aos documentos escritos e por seu espírito crítico, atingiu um grau de objetividade bastante raro nos historiadores antigos, que faz de suas Memórias Históricas não só uma das mais preciosas fontes para o estudo da História antiga da China mas também um importante marco na história da historiografia mundial. Como ele próprio relata, aplicou-se à redação do Shih chi para realizar um desejo de seu pai, também cronista, e, tendo caído no desagrado do Imperador por defender a causa de um general chinês que havia se rendido ao inimigo, preferiu submeter-se à pena infamante de ser transformado em eunuco para poder terminar sua obra ao invés de apelar para a solução honrosa do suicídio. Contemporâneo das viagens de Chang Ch'ien, provavelmente Ssu-ma Ch'ien obteve diretamente do explorador o relato de suas incursões na Ásia Central que apresentamos mais adiante1.

2. Antecedentes da Viagem de Chang Ch'ien
Desde a Antigüidade uma das principais constantes da história chinesa é o conflito entre os lavradores sedentários das planícies do Hoang-Ho e do Yang-Tse-Kiang e os nômades pastores dos desertos e estepes do Ocidente e do Norte. O nomadismo surgiu no Planalto da Mongólia em época bem mais recente do que na Ásia Ocidental e provavelmente sob a influência de povos nômades bem mais antigos vindos do Ocidente. Ao passo que na Ásia Ocidental os citas, primeiro povo nômade que a História registra, fazem sua aparição no século VIII a. C., no Extremo Oriente os primeiros nômades só surgem a partir do século IV a. C. O nomadismo é originário do Turquestão Ocidental, de onde se difundiu primeiro para o Ocidente (citas) e depois para o Turquestão Oriental, em direção da Mongólia. As primeiras menções a povos nômades na historiografia chinesa remontam ao Período dos Reinos Combatentes (403-221 a. C.). Quando a China foi unificada sob os Tsing (221-206 a. C.), confederações de tribos nômades concentradas na Mongólia e no Kan-Su começaram a pressionar as fronteiras ocidentais do Império Chinês. Shi-Huang-Ti, primeiro imperador Tsing, uniu entre si as muralhas construídas pelos vários senhores dos reinos do Norte, constituindo assim a chamada Grande Muralha, destinada a proteger O território chinês das incursões dos nômades. No Período Han, os cronistas chineses registravam dois tipos de populações estabelecidas a ocidente de suas fronteiras: os cultivadores sedentários estabelecidos nos oásis e os nômades pastores das estepes, entre os quais se destacavam os yueh-chih e os hsiung-nu. Os primeiros, denominados indocitas pelos historiadores ocidentais, habitavam originalmente o Kan-Su, de onde foram expulsos pelos hsiung-nu para o Ocidente. Provavelmente aparentavam-se aos iranianos. Já os hsiung-nu, estabelecidos no Planalto da Mongólia, região propícia ao desenvolvimento do nomadismo, compreendiam populações turco-mongóis. Segundo certos autores, aparentavam-se aos hunos ou mesmo foram seus antepassados diretos. Desde o fim do Período dos Reinos Combatentes assolavam as fronteiras da China. Quando Shi-Huang-Ti unificou a China em 221 a. C., os hsiung-nu também formaram uma grande confederação de tribos, contra a qual a China tentou se resguardar enviando expedições militares e construindo a Grande Muralha. Quando os Han sucederam os Tsing, encontraram um temível rival no shan-yu (título dado ao chefe da Confederação hsiung-nu) Mo-Tun. Kao-Tsu, primeiro imperador Han, sofreu fragorosas derrotas frente aos hsiung­nu, aos quais a China se viu obrigada a pagar tributo para não ver suas terras invadidas. Os primeiros anos da Dinastia Han foram de agitações internas e desorganização econômica, o que impediu a China de tomar medidas eficientes contra os nômades. Só durante o reinado de Wu-ti a estabilidade econômica e política do Império chinês permitiu uma série de campanhas militares vitoriosas contra os nômades hsiung-nu. A principal tática de Wu-Ti consistiu em procurar isolar os hsiung-nu dos oásis do Turquestão Oriental, entre cujas populações sedentárias os nômades obtinham os recursos econômicos básicos para a mobilização de suas hordas. Este foi o principal motivo da expansão chinesa no Turquestão Oriental, aliado ao desejo de ampliar a esfera de influência comercial da China, colocando sob seu domínio as rotas através das quais exóticos produtos do Ocidente chegavam até Chang-An, a capital dos Han. Também Wu-Ti desejava obter cavalos de boa raça nos oásis da Ásia Central para constituir uma cavalaria capaz de ombrear com a dos hsiung-nu, já que os cavalos até então existentes na China eram pequenos e feios. A derrota dos yueh-chih frente aos hsiung-nu e sua migração para o Ocidente fizeram Wu-Ti se decidir a enviar um emissário ao misterioso Oeste, onde a imaginação chinesa colocava paraísos maravilhosos habitados por seres celestiais ao lado de regiões terríveis habitadas por demônios e criaturas estranhas que assaltavam e devoravam os viajantes2. Neste ponto, podemos passar a palavra a Ssu-ma Ch'ien.

3. Documento: A Viagem de Chang Ch'ien à Ásia Central e suas Conseqüências

(Relato sobre Ta-Yuan)3
As coisas de Ta-Yuan4 foram claramente conhecidas graças a Chang Ch'ien5. Chang Ch'ien era natural de Han-Chang e serviu como funcionário do Palácio na era Chien Yuan6. Nessa época o Filho do Céu7 interrogou vários hsiung-nu que se renderam aos Han e todos disseram que os hsiung-nu venceram o rei dos yueh­chih e fizeram de seu crânio uma taça para beber. Os yueh-chih fugiram e desejaram vingar-se dos hsiung-nu, mas não encontraram ninguém que se unisse a eles contra os hsiung-nu.
Nessa época, Han estava empenhado em destruir os hsiung-nu e, ouvindo isso, o Imperador decidiu mandar um emissário estabelecer relações com os yueh-chih. Para isso, seria necessário atravessar o território hsiung-nu. Buscando o Imperador alguém capaz de desempenhar a missão, Chang Ch'ien, como funcionário do Palácio, apresentou-se e foi enviado como emissário aos yueh-chih.
Acompanhado por Kan-Fu, um escravo estrangeiro pertencente a uma família de T'ang-I, partiu ele de Lung-Hsi e penetrou em território hsiung-nu. Os hsiung-nu aprisionaram os viajantes e conduziram-nos perante o shan-yu que os impediu de prosseguir, dizendo: 
"Os yueh-chih vivem ao norte de nosso território, como pensaram os Han ser possível mandar-lhes emissários? Porventura permitiriam os Han que eu mandasse emissários ao reino de Yueh8 através de seu território?"
Por dez anos Ch'ien foi detido. Deram-lhe uma esposa e ele gerou filhos. Não se separou porém de suas credenciais de emissário imperial. Vivendo apenas entre hsiung-nu, a vigilância era pouco rigorosa. Assim, Ch'ien fugiu com seus companheiros e prosseguiu sua viagem para os yueh-chih. Marchando algumas dezenas de dias para o Ocidente, chegou a Ta-Yuan. Ta-Yuan, sabendo das riquezas de Han, desejava entrar em contacto com o Império mas não o havia conseguido até então. Alegre à vista de Ch'ien, o rei de Ta Yuan perguntou-lhe para onde ia. Ch'ien respondeu:
"Fui mandado como emissário de Han aos yueh-chih, mas, aprisionado longo tempo pelos hsiung-nu, só agora consegui fugir. Peço a V. Majestade que me forneça guias que me mostrem o caminho até os yueh-chih. Caso eu volte a Han tendo cumprido minha missão, o Imperador enviará numerosos presentes a V. Majestade".
Achando isso justo, o rei de Ta-Yuan forneceu a Ch'ien guias e intérpretes e fê-lo partir. Chegou então a K'ang-Chu9, de onde o guiaram para a terra do Grande Yueh-chih10.
Quando o rei do Grande Yueh-Chih foi morto pelos hsiung-nu, o príncipe herdeiro sucedeu-lhe no trono. Transformou Ta-Hsia11 em estado tributário. A terra era fértil, não tinham inimigos e viviam em paz. O rei, considerando quão longe ficavam os Han, não tinha vontade alguma de se vingar dos hsiung-nu. Da corte dos yueh-chih, Chien viajou para Ta-Hsia, mas não conseguiu interessar os yueh-chih em seus propósitos. Depois de permanecer pouco mais de um ano na região, tomou o caminho de volta. Seguindo ao longo das Montanhas Nan-Shan, com a intenção de penetrar na China através do território dos bárbaros Ch'iang, foi novamente aprisionado pelos hsiung-nu. Pouco mais de um ano depois, o shan-yu morreu e o rei Lu-Li da Esquerda12 atacou o herdeiro do shan­yu, e declarou-se independente, caindo o país na desordem. Ch'ien fugiu para Han com sua esposa estrangeira e Kan-Fu de Tang-I. O Imperador nomeou Ch'ien conselheiro do Palácio e agraciou Kan-Fu com o título de "Senhor que leva a cabo sua missão".
Ch'ien era forte, paciente e generoso de nascença, além de confiar bastante nas pessoas. Por isso era apreciado até pelos bárbaros. Kan-Fu era de origem estrangeira, sendo hábil em atirar com o arco. Quando faltavam provisões durante a jornada, ele abastecia a caravana caçando. Quando Ch'ien partiu, a comitiva contava mais de cem pessoas, mas treze anos depois apenas duas regressaram. Os países em que Ch'ien penetrou foram Ta-Yuan, o Grande Yueh-Chih, Ta-Hsia e K'ang-Chu. Recolheu também notícias a respeito de cinco ou seis grandes países vizinhos e fez o seguinte relato ao Filho do Céu:
"Ta-Yuan fica a sudoeste dos hsiung-nu e bem a oeste de Han, a dez mil Li13 de distância. Quanto aos costumes, o povo é sedentário e cultiva a terra, produzindo arroz, trigo e vinho de uva. Criam também excelentes cavalos, cujo suor é semelhante a sangue e cujos antepassados são filhos de cavalos celestes. Há casas e cidades fortificadas, cerca de setenta cidades de vários tamanhos. A população é de várias centenas de milhares. As armas são o arco e a lança e os guerreiros costumam atirar montados.
Ta-Yuan é limitado ao norte por K'ang-Chu, a oeste pelo Gran­de Yueh-Chih, a sudoeste por Ta-Hsia, a nordeste por Wu-Sun14e a leste por Yu-Mi e Yu-T'ien15. A oeste de Yu-T'ien todos os rios correm para oeste, desembocando no Mar Ocidental16, mas a leste, os rios correm para leste, desembocando no Charco Salgado17. As águas do Charco Salgado correm debaixo da ter­ra e ao sul constituem as fontes do Rio Amarelo. Nessa região há muitas pedras preciosas18 e os rios correm para a China. Nas regiões de Lou-Lan19 e Ku-Shih20 há cidades fortificadas ao longo do Charco Salgado. O Charco Salgado dista cerca de cinco mil Li de Ch'ang-An21. O ramo ocidental dos hsiung-nu ocupa a região a leste do Charco Salgado, limitando-se com os bárbaros Ch'iang22 ao sul do extremo-oeste da Grande Muralha, impedindo assim o caminho de Han para o ocidente.
Os wu-sun vivem a dois mil Li a noroeste de Ta-Yuan. Nômades, migram seguindo seu gado. Seus costumes são idênticos aos dos hsiung-nu e possuem algumas dezenas de milhares de arqueiros que lutam bravamente. Eram a princípio subordinados aos hsiung­nu, mas ao se fortalecerem, permaneceram subordinados apenas nominalmente, não mais participando das assembléias anuais.
K'ang-chu fica a uns dois mil Li a noroeste de Ta-Yuan. O povo é nômade e seus costumes são quase iguais aos dos yueh-chih. Possuem oitenta ou noventa mil arqueiros. Limita-se com Ta-Yuan e é um país pequeno, estando subordinado nominalmente aos yueh-chih ao sul e aos hsiung-nu ao norte.
Yen-t'sai23 fica a uns dois mil Li a noroeste de K'ang-chu. Nômades, seus costumes são quase iguais aos dos k'ang-chu e possuem mais de cem mil arqueiros. Habitam às margens de um grande lago, talvez o Mar do Norte24.
O Grande Yueh-Chih fica a dois ou três mil Li a oeste de Ta­Yuan, ao norte do rio Kuei25. Limita-se ao sul com Ta-Hsia, a oeste com An-Hsi26 e ao norte com K'ang-chu. Nômades, deslocam-se seguindo seu gado e têm costumes semelhantes aos dos hsiung-nu. Como contavam com um número de arqueiros entre cem e duzentos mil, confiavam em sua força e desprezavam os hsiung-nu, mas quando surgiu o shan-yu Mo-Tun dos hsiung-nu, este bateu os yueh-chih, cujo rei foi morto no tempo do velho shan-yu27, que de seu crânio fez uma taça. A princípio os yueh-chih viviam entre Tun-Huang e os montes Ch'i-lien, mas, derrotados pelos hsiung-nu, fugiram para longe, ultrapassaram Ta-Yuan, atacaram e submeteram Ta-Hsia no Ocidente e estabeleceram a corte real ao norte do rio Kuei. Pequenos grupos que não puderam fugir para longe refugiaram-se entre os bárbaros Ch'iang, das montanhas do Sul. São o Pequeno Yueh-Chih.
 An-Hsi fica a alguns milhares de Li a oeste do Grande Yueh-Chih. Quanto aos costumes, o povo é sedentário e cultiva a terra, produzindo arroz, trigo e vinho de uva. As cidades fortificadas parecem-se com as de Ta-Yuan, contando-se às centenas, de vários tamanhos. É um grande país que se estende por mais de dez mil Li. Situa-se às margens do rio Kuei. Parte da população é constituída de comerciantes, que em barcos e carroças se dirigem aos países vizinhos, às vezes vários milhares de Li. Usam moedas de prata, nas quais é gravada a efígie do soberano. Quando o rei morre, a moeda é trocada por outra com a imagem do novo soberano. Escrevem horizontalmente, em couro. A oeste fica Tiao-Chih28, ao norte Yen-T'sai e Li-Hsuan29.
Tiao-Chih fica a vários milhares de Li a oeste de An-Hsi, às margens do Mar Ocidental30. É um país quente e úmido. A população cultiva os campos e produz arroz. Há grandes pássaros que põem ovos tão grandes como vasos. A população é numerosa e em toda a parte se encontram pequenos chefes, vassalos de An-Hsi. O povo é hábil em prestidigitação. Os velhos de An-Hsi contam que em Tiao-Chih há um rio chamado Águas Fracas, onde reside uma feiticeira chamada a Rainha Mãe do Ocidente, mas disseram que nunca a viram.
Ta-Hsia fica a dois mil Li a sudoeste de Ta-Yuan, ao sul do rio Kuei. O povo é sedentário. Há cidades fortificadas e casas. Os costumes são semelhantes aos de Ta-Yuan. Não há grandes chefes, mas apenas pequenos senhores nas cidades fortificadas. São fracos em poder militar e temem a guerra, mas são grandes comerciantes. Quando os yueh-chih migraram para o Ocidente, derrotaram e submeteram todo o Ta-Hsia. A população é numerosa, passando de um milhão. Sua capital é a cidade de Lan-Shih31, onde há um mercado no qual várias espécies de produtos são negociados. A sudoeste fica o país de Shen-Tu"32.
Disse ainda Ch'ien:
"Quando eu estava em Ta-Hsia, vi canudos de bambu de Ch'ung33 e tecidos de Shu34. Quando perguntei onde conseguiram tais produtos, os naturais de Ta-Hsia responderam que eles eram comerciantes e iam até o país de Shen-Tu para comprar esses artigos. O país de Shen-Tu fica a vários milhares de Li a sudeste de Ta-Hsia. O povo é sedentário e seus costumes se assemelham aos de Ta-Hsia. O clima é quente e úmido. Os naturais guerreiam montados em elefantes. O país fica situado junto a um grande rio. Segundo os cálculos que eu fiz, Ta-Hsia dista de Han doze mil Li a sudoeste; já que o país de Shen-Tu fica situado a vários milhares de Li a sudeste e lá são encontrados produtos de Shu, parece que o país de Shen-Tu não fica muito distante de Shu. Se tentarmos enviar emissários a Ta-Hsia seguindo pelo caminho montanhoso no interior do território dos bárbaros Ch'iang, estes os molestarão; se os emissários seguirem mais ao norte, poderão ser aprisionados pelos hsiung-nu; se irem por Shu, o caminho será mais curto e não haverá inimigos que os molestem".
O Filho do Céu refletiu:
"Ta-Yuan, Ta-Hsia, An-Hsi e outros são grandes países, abundantes em produtos exóticos, a população é sedentária e as produções muito parecidas com as dos chineses. São fracos em poderio militar e apreciam as riquezas de Han. Ao norte de Ta-Yuan situam-se o Grande Yueh-Chih, K'ang-Chu e outros, dispondo de forte poder militar. Se lhes mandarmos presentes, fornecendo-lhes lucros, poderemos atraí-los a prestar homenagem a Han. Se pacificamente eles se tornarem súditos, alargando o território em dez mil Li e tornando tributários povos de costumes diferentes, cuja língua só é compreensível depois de traduzida e retraduzida nove vezes, meu poder como Filho do Céu será conhecido nos Quatro Mares".
O Filho do Céu, satisfeito, aprovou a sugestão de Ch'ien. Ordenou a Ch'ien que mandasse de Chien-wei em Shu uma missão secreta a Ta-Hsia. Os emissários partiram em quatro grupos, das regiões de Mang, Jan, Hsi, Ch'ung e Po. Todos os grupos, após avançarem mil ou dois mil Li; foram detidos, ao norte pelas tribos ti e tso e ao sul pelas tribos sui e k'un-ming. Os k'un-ming não tinham governantes, entregavam-se à pilhagem e ao roubo e mal encontraram os emissários de Han, mataram-nos. Assim, nenhum chegou a Ta-Hsia. Entretanto, soube-se que dali a mil e poucos Li para oeste existe um país onde é costume montar em elefantes, de nome Tien-yueh, onde aparecem comerciantes de Shu que praticam o contrabando. Assim, quando Han buscava um caminho para Ta-Hsia, pela primeira vez entrou em contacto com o reino de Tien35.
Han procurara a princípio entrar em contacto com os bárbaros do sudoeste, mas como os gastos eram altos e os caminhos impenetráveis, desistira da empresa. Agora, que Chang Ch'ien declarara ser possível atingir Ta-Hsia, voltou a pensar nas relações com esses bárbaros. Ch'ien, como oficial, acompanhou o Grande General36 e bateu os hsiung-nu. Como ele sabia onde encontrar água e forragem, o exército avançou sem problemas. Foi nomeado por isso "Marquês da Visão Sábia" no sexto ano da era Yuan-so37. No ano seguinte, foi feito coronel da guarda e acompanhou o general Li38 numa expedição partida de Yu-pei-p'ing para bater os hsiung-nu. O General Li foi cercado pelos hsiung-nu, o exército sofreu pesadas perdas, Ch'ien não chegou a tempo e foi condenado à morte, mas resgatou sua pena39 e foi rebaixado a plebeu. No mesmo ano Han enviou o General de Cavalaria40, que bateu um exército de várias dezenas de milhares de hsiung-nu na região oeste e avançou até os montes Ch'i-lien. No ano seguinte, o rei Hun-Yeh rendeu-se a Han com suas bordas de bárbaros. Assim, de Chin-ch'eng e Ho-hsi, ao longo das Montanhas do Sul e até o Charco Salgado, os hsiung-nu desapareceram, ficando a terra desabitada. Ocasionalmente apareciam patrulhas hsiung-nu, mas eram muito raras. Dois anos depois Han bateu o shan-yun, expulsando-o para os desertos do norte.
Depois, ocasionalmente o Filho do Céu interrogava Ch'ien sobre Ta-Hsia e outras regiões. Ch'ien, que perdera seu título de nobreza, buscando uma oportunidade, explicou: 
"Quando eu estava entre os hsiung-nu, ouvi sobre o rei dos wu-sun, chamado K'un-mo. Seu pai era rei de um pequeno país a oeste dos hsiung-nu, sendo atacado e morto por estes. K'un-mo, ainda recém-nascido, foi abandonado no campo, mas os pássaros traziam-lhe carne e os lobos, leite. O shan-yu, maravilhado, criou-o, julgando-o um ser divino. Quando ele cresceu, fizeram-no chefiar tropas e como ele praticasse feitos heróicos, o shan-yu confiou-lhe o povo do pai e fê-lo guardião dos fortes de oeste. K'un-mo protegia seu povo e liderou-o em ataques a pequenos fortes na vizinhança, adestrando-o na guerra. Dispunha de dezenas de milhares de arqueiros, bem treinados em ataques. Quando o shan-yu morreu, K'un-mo guiou seu povo para longe e declarou-se independente, não mais aparecendo na corte dos hsiung-nu para prestar homenagem. Os hsiung-nu mandaram tropas que não conseguiram vencê-lo. Então mantiveram-no à distância, como um ser divino, reconhecendo-o como súdito nominal e não mais o molestaram. Agora, o shan-yu está em dificuldades por causa de Han e no território do rei Hun-Yeh não vive ninguém. Como todos os bárbaros, eles ambicionam as riquezas de Han. Seria bom aproveitar a oportunidade e mandar grandes presentes aos wu-sun, atraí-los cada vez mais para leste e instalá-los no antigo território do rei Hun-Yeh e tratá-los como irmãos de Han. Assim, eles obedecerão a Han, o que equivalerá a cortar o braço direito dos hsiung-nu. Feita a aliança com os wu-sun, será fácil atrair Ta-Hsia e outros povos de mais oeste, tornando-os súditos nominais".
O Filho do Céu achou o plano razoável, nomeou Ch'ien chefe dos oficiais do palácio e confiou-lhe trezentos soldados, dois cavalos por soldado e dezenas de milhares de bois e cabras. Também confiou-lhe bilhões em ouro e peças de seda. Fê-lo acompanhar por muitos sub-emissários munidos de credenciais imperiais para que no caminho os fosse mandando para os países da vizinhança.
Ch'ien chegou a Wu-sun. K'un-mo, o rei dos wu-sun, ao avistar-se com os emissários de Han, não lhes prestou as devidas honras, como também fazia com os hsiung-nu. Ch'ien sentiu-se envergonhado, mas como conhecia a cobiça dos bárbaros, disse-lhe que devolvesse os presentes do Filho do Céu, já que não prestava as devidas honras. Então K'un-mo venerou os presentes, mas não prestou mais nenhuma homenagem. Ch'ien, fazendo saber o objetivo de sua missão, declarou que se os wu-sun se mudassem para leste, ocupando o antigo território do rei Hun-Yeh, Han lhe mandaria uma princesa imperial como esposa.
Nessa época os wu-sun não só estavam se fragmentando mas também seu rei era idoso e, vivendo longe de Han, não sabia de sua grandeza. Por outro lado, foi por muito tempo súdito dos hsiung-nu, que estavam próximos. Os ministros, temendo os hsiung-nu, não acharam conveniente a mudança para leste - O rei não podia resolver sozinho e Ch'ien não conseguiu seu objetivo.
K'un-mo tinha mais de dez filhos. O segundo filho se chamava Ta-lu, era muito forte, talhado para comandar soldados e estava fora, comandando mais de dez mil cavaleiros. O irmão mais velho de Ta-lu era o Príncipe Herdeiro, que tinha um filho de nome Ts'en-ch'u. O Príncipe Herdeiro morreu jovem, tendo na hora da morte pedido ao pai que proclamasse Ts'en-ch'u, e nenhum outro, Príncipe Herdeiro. Compadecido, K'un-mo aceitou e proclamou Ts'en-ch'u Príncipe Herdeiro. Ta-lu, furioso por não se tornar Príncipe Herdeiro, convocou os irmãos e planejou uma revolta à frente de seus soldados, preparando-se para atacar K'un-mo e Ts'en-ch'u. K'un-mo, que estava velho e temia que Ta-lu matasse Ts'en-ch'u, confiou a este mais de dez mil cavaleiros, mandando-o para outro lugar. O próprio K'un-mo ficou a espera, à frente de mais de dez mil cavaleiros. Assim, o país estava dividido em três grupos e embora K'un-mo governasse a maior porção, não podia sozinho firmar nenhum pacto com Ch'ien. Assim, Ch'ien enviou sub-emissários para Ta-yuan, K'ang-Chu, o Grande Yueh-Chih, Ta-Hsia, An-Hsi, Shen-Tu, Yu-T'ien, Yu-mi e outros países vizinhos. Os wu-sun forneceram intérpretes e guias para o regresso de Ch'ien, que, acompanhado por algumas dezenas de emissários wu-sun levando algumas dezenas de cavalos oferecidos como retribuição aos presentes, voltou para a China. O objetivo era fazer os emissários verem Han e conhecerem sua grandeza.
Ao regressar, Ch'ien foi feito Grande Emissário, colocado entre os nove mais altos ministros, mas morreu pouco mais de um ano depois. Os emissários de wu-sun, vendo a grande população de Han e sua opulência material, voltaram a seu país e relataram o que viram. Assim, por fim os wu-sun começaram a respeitar Han. Pouco mais de um ano depois, os emissários mandados por Ch'ien a Ta-Hsia e outros lugares voltaram acompanhados de emissários dos vários países. Assim, pela primeira vez os países do noroeste entraram em relações com Han. Foi porém Chang Ch'ien que abriu o caminho para o Ocidente. Todos os emissários que partiam depois estribavam-se na reputação do "Marquês da Visão Sábia" para fazer saber aos estrangeiros a sinceridade de Han. Assim, os estrangeiros passaram a confiar nos emissários de Han.
Depois da morte do "Marquês da Visão Sábia", os hsiung-nu, sabendo que os wu-sun mantinham relações com Han, enfureceram-se e prepararam-se para atacá-los. Emissários de Han mandados aos wu-sun iam pelo sul dos wu-sun a Ta-Hsia e ao Grande Yueh-Chih. Muitos emissários desses eram mandados então. Temendo os hsiung-nu, os wu-sun enviaram um emissário com cavalos como presentes, pedindo uma princesa imperial de Han como esposa para seu rei e suplicando que Han os aceitasse como povo irmão. O Filho do Céu consultou os ministros, que opinaram que só se deveria mandar uma princesa depois de recebidos os devidos presentes de noivado.
O Filho do Céu consultou o Livro das Transformações41 e a resposta foi: "cavalos divinos virão do Nordeste". Recebendo os cavalos dos wu-sun e vendo que eram bons animais, deu-lhes o nome de "cavalos celestes". Mais tarde, conseguiu cavalos de Ta-Yuan, cujo suor é semelhante a sangue, que eram animais muito melhores. Assim, mudou o nome dos cavalos dos wu-sun para "cavalos do extremo-ocidente" e deu o de "cavalos celestes" para os de Ta-Yuan.
Nessa ocasião, pela primeira vez Han construiu fortalezas a oeste de Ling-chu e estabeleceu a província de Chu-ch'uan para preparar um caminho seguro para os países do noroeste. Assim, começou a enviar emissários para An-Hsi, Yen-T'sai, T'iao-Chih e Shen-Tu. O Filho do Céu gostava muito de cavalos de Ta-Yuan e não cessavam as idas e vindas de emissários para obtê-los. As comitivas de emissários que iam aos diversos países, quando grandes, contavam com centenas de pessoas e, quando pequenas, cento e poucas. As credenciais e presentes que levavam eram semelhantes aos do tempo do "Marquês da Visão Sábia". Quando foram se habituando, o número foi sendo diminuído. Em um ano, Han mandava mais de dez embaixadas, no máximo, e cinco ou seis, no mínimo. As enviadas a países longínquos voltavam em oito ou nove anos, as a países próximos, em poucos anos.
Nessa época Han já havia aniquilado Yueh, e os bárbaros a sudoeste de Shu, temerosos; vieram prestar homenagens na corte e pedir que lhes mandassem oficiais Han. Assim, foram criadas as províncias de I-chou, Yueh-sui, Tsang-ko, Ch'en-li e Wen-shan, com o desejo de alargar a área sob controle Han até abrir caminho para Ta-Hsia. Han mandou Po-Shih-ch'ang, Lu Yueh-jen e outros como emissários, dez comitivas por ano, partindo dessas novas províncias, para atingir Ta-Hsia, mas todos foram bloqueados pelos k'un-ming, sendo mortos ou espoliados, nenhum conseguindo chegar a Ta-Hsia. Então Han libertou os prisioneiros de três distritos da área da Capital, adicionou-lhes algumas dezenas de milhares de soldados de Pa e Shu e mandou-os sob o comando dos generais Kuo Ch'ang e Wei Kuang atacar os k'un-ming que bloqueavam os emissários de Han. O exército voltou após matar ou aprisionar várias dezenas de milhares de bárbaros. Depois, mandou mais emissários mas novamente os k'un-ming os atacaram. Assim, ninguém conseguiu chegar a Ta-Hsia. Entretanto, ao norte, pelo caminho de Chiu-ch'uan a Ta-Hsia, seguiam muitos emissários e os estrangeiros, maravilhados com os produtos de Han, passaram a valorizá-los.
Desde que o "Marquês da Visão Sábia" abrira o caminho para o Ocidente e alcançara a nobreza, os oficiais e soldados que o acompanharam rivalizavam-se em relatar por escrito as maravilhas das terras estranhas e as vantagens e desvantagens das comunicações, procurando tornarem-se emissários. O Filho do Céu, sabendo que os países longínquos não eram lugares onde ninguém ia com gosto, atendia aos oferecimentos e concedia credenciais. Também ampliava o âmbito das embaixadas, convocando entre o povo quaisquer voluntários, sem olhar para seu passado ou estirpe, para acompanhar os emissários. Assim, alguns emissários fugiam com os presentes destinados aos estrangeiro ou praticavam atos contrários à vontade imperial. Como os emissários eram conhecedores dos países estrangeiros, o Filho do Céu investigava os crimes, taxava-os de graves mas prometia perdão em troca de indenização. Assim, eles se candidatavam novamente a emissários. Por isso, nunca faltava gente para as embaixadas, mas por outro lado estas violavam despreocupadamente a lei. Os oficiais e soldados também alardeavam amplamente as coisas vistas no estrangeiro. Os mais faladores recebiam credenciais de emissários e os mais discretos, de sub-emissários. Assim, muitos vagabundos faladores procuravam imitá-los. Os emissários eram todos filhos de gente pobre, apoderavam-se dos presentes destinados aos estrangeiros e procuravam vendê-los barato para embolsar o produto. Os estrangeiros também percebiam diferenças na maneira de agir dos emissários de Han e detestavam suas mentiras. Assim, julgando que devido à distância as tropas de Han não os atacariam, molestavam os emissários de Han, não lhes fornecendo provisões. Os enviados de Han, exaustos pela inanição, exaltavam-se e indignavam-se, às vezes chegando a lutar entre si.
Lou-Lan e Ku-Shih não passavam de pequenos Estados situados no caminho dos emissários. Assim mesmo, atacaram e ameaçaram Wang-Hui e outros emissários de Han com grande ferocidade. Além disso, grupos de assalto hsiung-nu às vezes detinham e atacavam os enviados de Han a caminho do Ocidente. Os emissários queixavam-se das atribulações sofridas no estrangeiro e acrescentavam que embora as cidades fossem fortificadas, o poderio militar era débil e elas seriam facilmente vencidas. Então o Filho do Céu enviou Chao P'o-nu, antigo Marquês Ts'ung-p'iao, com cavaleiros de países dependentes e províncias e algumas dezenas de milhares de soldados. Avançaram até o rio Hsung-ho para atacar os hsiung-nu, mas estes se retiraram. No ano seguinte, atacou Ku-Shih. Chao P'o-nu, com uma cavalaria ligeira de uns setecentos homens, atuou na vanguarda, aprisionou o rei de Lou-Lan e derrotou Ku-Shih. Ao regressar, Chao P'o-nu foi nomeado Marquês de Cho-Yeh.
Wang-Hui, que como emissário tinha sido várias vezes maltratado em Lou-Lan, informou disso o Filho do Céu, que lhe forneceu soldados e ordenou que auxiliasse Chao P'o-nu. Hui atacou e derrotou Lou-Lan, sendo nomeado Marquês de Hao. Depois, uma série de postos de defesa foi estabelecida desde Chiu-ch'uan até a Barreira do Portão de Jade42.
Os wu-sun mandaram mil cavalos a Han como presente de noivado, visando uma princesa Han. Han mandou uma princesa da família imperial, a filha do rei de Chiang-tu, para esposa do rei dos wu-sun. K'un-mo, rei dos wu-sun, fez dela sua Esposa da Direita43. Os hsiung-nu também mandaram uma princesa como noiva para K'un-mo, que fez dela sua Esposa da Esquerda. Anos mais tarde, dizendo-se velho, K'un-mo casou a princesa de Han com seu neto Ts'en-ch'u. Os wu-sun tinham muitos cavalos, possuindo os ricos cerca de quatro ou cinco mil.
Quando os emissários de Han foram pela primeira vez a An-Hsi, o rei mandou vinte mil cavaleiros recebê-los na fronteira leste. A fronteira leste dista vários milhares de Li da capital e até chegar a esta, os emissários passaram por dezenas de cidades fortificadas. Quando os emissários de Han tomaram o caminho de volta, An-Hsi mandou emissários seus acompanharem os de Han para prestar homenagem. Viram a grandeza de Han e ofertaram ovos de avestruz e prestidigitadores de Li-Hsuan. Além disso, os pequenos países de Huan-ch'ien e Ta-i44, a oeste de Ta-Yuan, e Ku-Shih, Yu-mi e Su-Hsieh45, a leste, também mandaram gente acompanhando os emissários de Han para venerar o Filho do Céu e ofertar presentes. O Filho do Céu ficou muito satisfeito. Emissários de Han buscaram as nascentes do Rio Amarelo. Essas nascentes ficam em Yu-T'ien, em cujas montanhas há muito jade, que os emissários trouxeram para Han. O Filho do Céu examinou livros antigos e denominou Kuen-lun as montanhas onde nasce o Rio Amarelo.
Nessa ocasião, o Imperador excursionou pelas praias; levando consigo os convidados estrangeiros. Detinha-se nas cidades populosas, prodigalizando dinheiro e seda aos convidados e tratando-os principescamente com todas as comodidades, assim lhes mostrando a riqueza de Han. Promovia lutas e exibições de prestidigitadores e outros portentos. Numerosa multidão acorria a esses espetáculos. Prêmios eram distribuídos, banquetes eram realizados com montanhas de carne e rios de bebidas; aos estrangeiros eram mostrados os armazéns e depósitos imperiais das várias regiões. Por toda a parte eles viam a grandeza de Han e se maravilhavam. Quando vieram os prestidigitadores de Li-Hsuan, as lutas e espetáculos de prestidigitação ganharam em variedade cada ano. Tudo isso, que depois se popularizou, começou nessa época.
Os emissários dos países do noroeste vinham e iam, alternadamente. Os países a oeste de Ta-Yuan, tranqüilizados pela distância de Han, agiam com arrogância e não era possível fazê-los cumprir o ritual e obedecerem a vontade de Han. Os países de Wu-sun para oeste, até Ta-Hsia, estavam próximos aos hsiung-nu e assim como no tempo em que estes molestavam os yueh-chih, quando emissários hsiung-nu apresentavam as credenciais do shan-yu, qualquer país lhes fornecia cavalos e víveres, acompanhava-os e os hospedavam com todas as atenções, nunca os molestando. Mas com os emissários de Han era bem diferente, não forneciam víveres ou gado sem pagamento. Isso porque Han era distante e rico. Assim, os emissários tinham de comprar o que necessitavam, pois esses povos temiam mais os hsiung-nu do que os emissários de Han.
Em Ta-Yuan fabricava-se vinho de uva. Os ricos estocavam mais de dez mil medidas de vinho e as maiores adegas não se esgotavam nem mesmo em dez anos. Conforme o costume local, todos apreciavam o vinho. Os cavalos gostavam da alfafa. Os emissários de Han trouxeram uva e alfafa e pela primeira vez o Filho do Céu as plantou em terreno fértil. Aumentaram os "cavalos celestes" de Ta-Yuan e desde que os emissários estrangeiros começaram a vir, plantou-se uva e alfafa a perder de vista em torno dos palácios de verão e vivendas imperiais.
De Ta-Yuan para ocidente, até An-Hsi, os países têm línguas bem diferentes, mas os costumes são semelhantes e um conhece a língua do outro. Todos tem olhos encovados e barbas e bigodes hirsutos. Hábeis comerciantes, disputam os mais insignificantes lucros. Quanto aos costumes, respeitam as mulheres, cujas palavras movem os homens a tomar suas decisões. Nessas regiões não se produz nem seda nem laca. Também não sabiam fabricar moedas e vasos de ouro e prata. Desertores das embaixadas de Han que se rendiam a eles ensinaram-lhes a fabricação de novas armas. Quando obtinham ouro e prata de Han, usavam-nos para fazer vasos, mas não moedas.
Quando os emissários de Han se tornaram numerosos, muitos jovens que os acompanhavam se habituaram a comparecer ante o Filho do Céu. Relataram que Ta-Yuan possuía magníficos cavalos na cidade de Erh-Shih46, onde os escondia, recusando-se a ofertá-los aos emissários de Han. O Filho do Céu, que prezava muito os cavalos de Ta-Yuan, animou-se ouvindo isso e convocou jovens oficiais e mestres de carruagens, que enviou com mil moedas de ouro para oferecer ao rei de Ta-Yuan em troca dos cavalos de Erh-Shih. Em Ta-Yuan, vendo quão ricos eram os presentes de Han, os dignitários confabularam e disseram:
"Han fica muito longe de nosso país e muitos chineses caíram e morreram nos charcos salgados do deserto. Ao norte está o poder hsiung-nu e ao sul a água e a forragem escasseiam. Comitivas de centenas de emissários de Han conseguem chegar aqui, mas com penúria de víveres e reduzidas à metade. Jamais enviarão um grande exército! Nada poderão fazer contra nós! Os cavalos de Erh-Shih são nosso tesouro!"
Assim, negaram-se a entregar os cavalos aos emissários de Han. Estes gritaram indignados, destruíram o cavalo de ouro e retiraram-se. Os nobres de Ta-Yuan se enfureceram, dizendo-se insultados terrivelmente pelos emissários de Han e deram ordem ao povo de Yu­ch'eng, em suas fronteiras orientais, para deter os emissários de Han, matá-los e roubar suas riquezas.
O Filho do Céu ficou bastante indignado. Yao Ting-han e outros, que tinham ido como emissários a Ta-Yuan, disseram que seus soldados eram fracos e que menos de três mil soldados de Han, armados de potentes bestas eram suficientes para aprisionar os inimigos e desbaratar Ta-Yuan. O Filho do Céu, que outrora mandara Chao P'o-nu atacar Lou-Lan, cumprindo este a missão e aprisionando o rei com apenas setecentos cavaleiros, achou verdadeiras as palavras de Yao Ting-han e dos outros. Como o Filho do Céu desejava elevar à nobreza os irmãos de sua favorita, a Senhora Li, honrou seu irmão mais velho Li Kuan-li com o título de General de Erh-Shih e mandou-o com seis mil cavaleiros de países tributários e algumas dezenas de milhares de rapazes de má reputação arrebanhados nas províncias e reinos de Han, para a conquista de Ta-Yuan. O objetivo era conseguir bons cavalos em Erh-Shih, daí o título de General de Erh-Sbih. Chao Chih-ch'eng foi nomeado encarregado da lei marcial da expedição e Wang Hui, antigo marquês de Hao, se­guiu como guia. Li Ch'e foi como sub-comandante, encarregado de vários setores militares. Isso foi no primeiro ano da era T'ai-Yuan47. Nessa época, a leste da Barreira48 foram grandes os prejuízos causados pelos gafanhotos, que se espalharam até os lados de Tun-Huang, no oeste.
As tropas do General de Erh-Shih marcharam para oeste, ultrapassando o Charco Salgado. Os pequenos países no caminho, assustados, mantiveram suas fortalezas na defensiva, não forneciam víveres e não adiantava atacá-los, pois não se rendiam. Quando conseguiam vencê-los, obtinham víveres, mas quando não, levantavam o cerco depois de alguns dias. Quando chegaram a Yu-ch'eng, os soldados estavam reduzidos a poucos milhares, famintos e cansados. Atacaram Yu-ch'eng mas sofreram grande derrota e muitos foram os mortos e feridos. O General de Erh-Shih confabulou com Ch'e e Shih-ch'eng, que disseram que, não podendo sequer tomar um local como Yu-ch'eng, ser-lhes-ia impossível chegar até a capital. Decidiram então pela retirada. Levaram cerca de dois anos na campanha e ao chegar a Tun-Huang estavam reduzidos a um ou dois décimos da força inicial.
De Tun-Huang mandou-se uma carta ao Imperador, explicando que a longa distância e a falta de alimentos fizeram os soldados sofrer mais com a fome do que com a guerra, que as tropas eram poucas e que nunca poderiam atacar Ta-Yuan. Pedia-se para suspender a campanha por algum tempo, a fim de partir novamente depois de obter reforços. O Filho do Céu ficou indignado e mandou emissários bloquearem a Barreira do Portão de Jade, com ordem de matar os soldados que tentassem passar. Temeroso, o General de Erh-Shih ficou estacionado em Tun-Huang.
No verão deste ano Han perdeu vinte mil soldados que Chao P'o-nu liderava contra os hsiung-nu. Os ministros e outros que participaram do debates opinaram que se devia suspender o ataque a Ta-Yuan e concentrar as forças no combate aos hsiung-nu. O Filho do Céu, que decidindo atacar Ta-Yuan, vira que esse país, embora pequeno, não se rendera, sentiu que Ta-Hsia e outros países passariam a desprezar Han e que jamais viriam os bons cavalos de Ta-Yuan. Sentiu também que os wu-sun e lun-t'ou insultariam e maltratariam os emissários de Han. Assim, mandou investigar criminalmente e castigar Ten Kuang e outros que opinaram pela inutilidade do ataque a Ta-Yuan, libertou os presos capazes de atirar com arco para agregá-los ao exército e arrebanhou mais rapazes de má fama e cavaleiros das regiões fronteiriças. Pouco mais de um ano depois, a força que partiu de Tun-Huang contava com sessenta mil homens, não contando carregadores de víveres e criados. Levavam cem mil bois, mais de trinta mil cavalos, burros, mulas e camelos às dezenas de milhares. Levavam muitos víveres e estavam bem providos de armas. O império agitava-se, no vai-e-vem das ordens e preparativos para o ataque a Ta-Yuan. Cerca de cinqüenta oficiais subalternos dirigiam as tropas.
No interior da capital fortificada de Ta-Yuan não havia poços, o abastecimento de água era feito de um rio que corria fora das fortificações. Assim, mandaram especialistas em canais para cavar uma passagem para desviar o curso do rio e privar a cidade do fornecimento de água. Han mandou ainda cento e oitenta mil soldados fronteiriços que guarneceram os distritos de Chu-Yen e Hsiu-t'a, estabelecidos ao norte de Chiu-ch'uan e Chang-Yeh para maior proteção de Chiu-ch'uan. Todos os homens do império enquadrados nas sete classes de pessoas degradadas49 foram convocados para carregar abastecimentos para o General de Erh-Shih. Carroças e carregadores seguiam incessantemente para Tun-Huang. Dois mestres de equitação foram nomeados oficiais para, depois da conquista de Ta-Yuan, selecionarem os melhores cavalos.
Assim, novamente o General de Erh-Shih se pôs em marcha. A tropa era numerosa e todos os pequenos países do caminho acolheram o exército e o forneceram de víveres. Quando chegaram a Lun-t'ou, esse povo não se rendeu e foi vencido após alguns dias de combate. Daí para oeste, não encontraram resistência e chegaram à capital fortificada de Ta-Yuan. Cerca de trinta mil soldados chineses chegaram até lá. Os soldados de Ta-Yuan saíram para atacar os de Han, que revidaram com os arcos, vencendo-os. O inimigo refugiou-se na cidade, preparando-se para resistir ao cerco.
O General de Erh-Shih queria atacar Yu-ch'eng, mas adiar o ataque a Ta-Yuan concederia ao inimigo folga para planejar uma saída qualquer, por isso ele reconsiderou. Portanto atacou primeiro a capital de Ta-Yuan e procedeu ao desvio do curso do rio. Os de Ta-Yuan sofreram bastante com isso. Durante quarenta dias a cidade foi cercada e atacada. Os muros exteriores foram derrubados e Chien-mi, nobre de Ta-Yuan e valente general, foi aprisionado. Os de Ta-Yuan, temerosos, fugiram para dentro das fortificações internas. Os nobres de Ta-Yuan confabularam e disseram:
"Han atacou Ta-Yuan porque o rei Wu-kua escondeu os melhores cavalos e matou os emissários de Han. Se matarmos Wu-kua e entregarmos os cavalos, as tropas de Han levantarão o cerco. Se não o fizerem, só resta lutar até morrer".
Todos os nobres de Ta-Yuan acharam razoável essa proposta, mataram o rei Wu-kua e mandaram emissários nobres com sua cabeça, os quais disseram o seguinte às tropas de Han:
"Pedimos a Han que suspenda o ataque. Apresentaremos todos os nossos bons cavalos para que Han escolha à vontade e forneceremos víveres para as tropas. Se não aceitarem a proposta, mataremos todos os nossos cavalos de raça. Reforços de K'ang-Chu estão para chegar e assim que apareçam, as tropas de Han serão atacadas por dois lados, por nós de dentro da cidade e pelos K'ang-Chu de fora. Esperamos que Han decida entre uma ou outra alternativa".
As tropas K'ang-Chu, vendo a forca das de Han, hesitavam então em avançar. O General de Erh-Shih confabulou com Shih-ch'eng e Ch'e, que disseram:
"Soubemos que no interior da cidade os inimigos têm um chinês que os ensinou a cavar poços. Também possuem víveres suficientes. Viemos até aqui para castigar o perverso rei Wu-kua, cuja cabeça já está conosco. Se não levantarmos o cerco, o inimigo resistirá bravamente. K'ang-Chu nos atacará e nos vencerá quando estivermos cansados".
Todos os oficiais concordaram com a proposta de Ta-Yuan, achando justa essa argumentação. Ta-Yuan apresentou seus cavalos da raça para que Han procedesse à escolha e forneceu víveres em quantidade para as tropas. As tropas de Han escolheram várias dezenas de cavalos de qualidade superior e mais de três mil cavalos e éguas de qualidade média e inferior. Colocaram no trono de Ta-Yuan um nobre de nome Mit'sai que outrora acolhera os enviados de Han com bondade, ambas as partes juraram amizade e a guerra foi suspensa. As tropas regressaram sem ter penetrado nas fortificações internas da cidade.
Quando o general de Erh-Shih partira de Tun-Huang para oeste, pensava que, sendo o exército muito grande, não conseguiriam os pequenos países do caminho fornecê-lo de víveres. Assim, colocou víveres em carroças que expediu por dois caminhos, um ao norte e outro ao sul. Um dos grupos, compreendendo mais de mil homens comandados pelo oficial subalterno Wang Shen-sheng, antigo Hu Ch'ung-kuo50seguiu para Yu-ch'eng. Yu-ch'eng resistiu, negando víveres às tropas de Han. Percebendo que as tropas de Shen-sheng diminuíam dia a dia, uma madrugada, três mil homens saíram ao ataque, massacrando Shen-sheng e seus homens. A tropa foi destroçada e poucos homens conseguiram fugir para junto do General de Erh-Shih. Este enviou Shang-kuan Chieh, seu comandante encarregado da requisição de grãos, que atacou e tomou Yu-ch'eng, cujo rei fugiu para os K'ang-Chu, sendo perseguido por Chieh. Quando K'ang-Chu soube que Han derrotara Ta-Yuan, entregou o rei de Yu-ch'eng a Chieh amarrou o rei e entregou-o a quatro cavaleiros para que o levassem ao Grande General. Os quatro, achando que o rei de Yu-ch'eng era um temível inimigo de Han que poderia causar dificuldades se fugisse, decidiram matá-lo mas nenhum teve a coragem de tomar a iniciativa. O cavaleiro Chao Ti, natural de Shang-kuei, era o mais jovem. Puxou da espada, matou o rei e cortou-lhe a cabeça. O grupo reuniu-se depois ao Grande General.
Quando do início da segunda expedição do General de Erh-Shih, o Filho do Céu mandou emissários aos wu-sun, aconselhando-os a mandarem tropas para o ataque a Ta-Yuan. Os wu-sun mandaram dois mil cavaleiros, mas estavam com segundas intenções e hesitavam em avançar. Quando o General de Erh-Shih fez sua marcha triunfal de volta ao leste, os reis dos pequenos países do caminho, sabendo que Ta-Yuan fora vencido, mandaram seus filhos e irmãos acompanharem as tropas para se apresentarem ao Filho do Céu com presentes e homenagens e permanecerem na China como reféns.
Quando o General de Erh-Shih atacou Ta-Yuan, o encarregado da lei marcial Shih-ch'eng lutou bravamente, conquistando os maiores méritos. Também Shang-kuan Chieh penetrou corajosamente em território inimigo e Li Ch'e destacou-se no planejamento. As tropas que voltaram e entraram pela Barreira do Portão de Jade estavam reduzidas a pouco mais de dez mil e os cavalos a pouco mais de mil. Nessa segunda expedição não faltaram víveres e os mortos não foram muitos. Entretanto, generais e oficiais eram ambiciosos e não prezavam seus soldados; freqüentemente aproveitavam-se deles e por isso muitos morreram. O Imperador, vendo que a força expedicionária marchara dez mil Li e derrotara Ta-Yuan, resolveu não punir as faltas. Nomeou o general Kuan-li Marquês de Hai-hsi. Chao Ti, o cavaleiro que matara o rei de Yu-ch'eng, foi feito Marquês de Hsin-chih. Chao Shih-ch'eng foi indicado para Superintendente da Casa Imperial, Shang-kuan Chieh para Tesoureiro Privado e Li-Ch'e para governador de Shang-Tang. Dos oficiais, três ascenderam entre os nove mais elevados ministros, cerca de uma centena foi agraciada com o título de marquês ou indicada para postos de chanceler, governador ou oficial percebendo duas mil medidas de arroz. Mais de mil tornaram-se oficiais percebendo mil medidas de arroz ou menos. Os que voluntariamente se juntaram ao exército receberam postos que excediam suas expectativas, enquanto que os condenados obrigados a prestar serviço foram todos perdoados e libertos da servidão penal. Os prêmios a soldados foram avaliados em quarenta mil peças de ouro. A expedição a Ta-Yuan levou quatro anos em duas viagens, até seu término satisfatório. Depois de derrotar Ta-Yuan, as tropas de Han voltaram deixando Mi-ts'ai como rei, mas pouco mais de um ano depois, os nobres de Ta-Yuan acusaram-no de bajular excessivamente os Han e de ter provocado a ruína do país. Mataram-no e colocaram no trono o irmão mais novo de Wu-kua, de nome Ch'an-feng. Este mandou seu filho como refém para a Corte de Han. Han mandou mensageiros com presentes, como agradecimento, e também mais de dez emissários aos países a oeste de Ta-Yuan, para procurar raridades e mostrar a potência dos vencedores de Ta-Yuan.
O governo instalou um comandante em chefe de Chiu-ch'ien em Tun-Huang e estabeleceu postos de defesa em vários pontos desde Tun-Huang até o Charco Salgado, a oeste. Uma força de várias centenas de soldados agricultores foi mandada como guarnição a Lun-t'ou, chefiada por um emissário, encarregada de armazenar grãos para abastecer os emissários mandados a países distantes.
O Grande Historiador diz:51
"Nos Anais Básicos do Imperador Yu52 é dito que as nascentes do Rio Amarelo se situam nos Montes Kuen-lun, cuja altura é de mais de dois mil e quinhentos Li. O sol e a lua se escondem alternadamente atrás dessas montanhas, produzindo o dia e a noite. Diz-se ainda que no alto se encontram a Fonte das Águas Doces e o Tanque de Jade. Entretanto, foi só após Chang Ch'ien ter ido como emissário a Ta-Hsia que foram descobertas as nascentes do Rio Amarelo, logo, ninguém jamais viu os montes Kuen-lun mencionados nos Anais Básicos. Assim, o que o Livro dos Documentos53 diz a respeito das montanhas e rios das nove antigas províncias da China, parece ser próximo à verdade, enquanto que eu não posso aceitar os prodígios relatados nos Anais Básicos do Imperador Yu e no Clássico de Montanhas e Mares"54

4. Breves Comentários ao Texto

O Relato sobre Ta-Yuan é precioso por ser o mais antigo texto chinês a mencionar a Ásia Central e Ocidental. Não só descreve as explorações de Chang-Ch'ien como também nos esclarece sobre a política expansionista de Wu-Ti na Ásia Central, que marca o início do controle da Rota da Seda pelo Império Han.
Restringindo nossos comentários apenas a alguns aspectos ligados às rotas e ao comércio, diremos em primeiro lugar que o texto revela claramente um grande interesse por parte dos chineses da época pelo Turquestão Oeste e países da Ásia Ocidental, em detrimento dos pequenos estados situados na zona da Bacia do Tarim, importantes pontos de passagem e encruzilhadas de rotas comerciais, cujos nomes são apenas citados de passagem, mas que serão descritos mais tarde com minúcia por Hsuen-Tsang, peregrino budista do século VII. Esse descaso pelo Turquestão Oriental, compreensível numa época em que se buscavam no Ocidente possíveis aliados contra os hsiung-nu, torna difícil reconstituir a primeira parte da viagem de Chang Ch'ien, mas a tarefa não é de todo impossível. Senão vejamos:
Quem saía da China pela Barreira do Portão de Jade e Tun-Huang, rumo ao Ocidente, tinha duas rotas a escolher para evitar a aridez do Deserto de Taclamakan:
a) o Caminho do Norte, situado na vertente sul dos montes Tien-Chan, passando por Lou-Lan, eventualmente por Turfan mais ao norte, Karachar e Kucha, descendo depois para sudoeste em direção a Kachgar, onde se encontra com o Caminho do Sul.
b) o Caminho do Sul, situado na vertente norte dos montes Kuen-lun, passando por Khotan e Yarkhand e reunindo-se ao do norte em Kachgar.
A partir de Kachgar era possível optar pelas numerosas rotas que, cruzando o Turquestão Oeste seguem para a Ásia Ocidental ou desviar para o Sul e penetrar na Índia através dos desfiladeiros do Hindu-Kush, como fizeram posteriormente os peregrinos búdicos. Para se atingir Ferghana, no alto curso do Sir-Daria, aquele que seguisse pela rota do sul teria de fazer um grande desvio para noroeste, o que não consta do relato, que diz simplesmente que Chang-Ch'ien caminhou alguns dias para o Ocidente depois de escapar aos hsiung-nu. Por isso, parece que o viajante seguiu pela Rota do Norte, por onde é mais curto o percurso até Ferghana.
Em segundo lugar, chamaremos a atenção para os produtos chineses que Chang Ch'ien viu na Báctria, procedentes da Índia para onde foram levados via Yu-Nan. Aconselhado por Chang Ch'ien, o imperador Wu-Ti tentou atingir a Báctria por esse caminho, mas foi impedido pelas tribos bárbaras que ocupavam a região. Dessas tentativas apenas resultou a penetração chinesa no Yu-Nan e o alargamento das fronteiras do Império para o Sul. Essa via aliás durante toda a história da China se mostrou impenetrável e os que buscavam penetrar na Índia sempre seguiram pelas rotas da Ásia Central ou por via marítima.
Em terceiro lugar, devemos chamar a atenção para a existência, além da Rota da Seda acima descrita, para mais duas rotas não mencionadas por Ssu-ma Ch'ien, às quais os chineses davam pouquíssima importância, se é que chegaram a tomar conhecimento de sua existência, embora tenham sido igualmente importantes para o intercâmbio cultural e comercial entre o Ocidente e o Oriente desde a Pré-História. Referimo-nos à "Rota das Estepes", ao longo da vertente norte dos montes Tien-Chan, utilizada pelas tribos nômades e a "Rota das Peles", ainda mais ao norte, beirando a taiga siberiana.
Em quarto lugar, destaquemos os interesses comerciais de Wu-Ti, paralelos aos militares e estratégicos:
a) o interesse pelos produtos exóticos do Ocidente: cavalos de raça, de valor estratégico evidente, tendo em vista as guerras com os hsiung-nu, uvas, alfafa, ovos de avestruz, etc. Além desses produtos, citados por Ssu-ma Ch'ien, outros penetraram na China da época via Rota da Seda, a saber: romãs, castanhas, pepinos, gergelim e pimenta. Um importante elemento cultural que veio enriquecer sobremaneira a cultura chinesa também penetrou no Celeste Império através da Rota da Seda: o Budismo, cuja introdução no Império Han data do ano 2 a. C.
b) o interesse em controlar as rotas de comércio, afastando os hsiung-nu, rivais dos chineses também nesse setor, através do envio de embaixadas e, quando necessário, de expedições militares.
Em quinto e último lugar, chamamos a atenção para a maneira peculiar com que os chineses desenvolviam seu comércio oficial, bem evidente aliás a uma simples leitura do texto. Os chineses consideravam-se situados no Centro do Mundo, constituindo um Império Universal que teoricamente deveria abarcar todo o mundo (teoria do Sinocentrismo) . Relações com países estrangeiros só eram concebidas se seus soberanos assumissem a posição de súditos do Filho do Céu e como tais lhe prestassem homenagem e oferecessem tributos. O comércio confundia-se então com a política e a diplomacia, uma vez que os legados chineses levavam seda e outros produtos à guisa de "dádivas do Filho do Céu a seus súditos" e que estes, por Sua vez, mandavam seus produtos para a China através de emissários, à guisa de tributos e preitos de homenagem. Esse tipo de relações dos chineses com os outros povos durou praticamente até a época da Guerra do Ópio, quando o troar dos canhões europeus obrigou os orgulhosos filhos do Celeste Império a despertar de seu sonho de uma Monarquia Universal.

5. Considerações Finais
Com Wu-Ti começou a dominação chinesa na Ásia Central. Esta não foi contínua, uma vez que vários sucessores de Wu-Ti sofreram sérios reveses frente aos hsiung-nu, perdendo momentaneamente o controle da Ásia Central e da Rota da Seda. Só no primeiro século da era cristã o general Pan Chao afastou definitivamente o perigo hsiung-nu e, estabelecendo um eficiente sistema de colônias militares na Ásia Centra!, garantindo o controle chinês da Rota da Seda. No século IV, a anarquia e posteriormente as invasões nômades novamente arrebataram a Ásia Central das mãos da China, que só voltou a controlá-la no Período Tang (séculos VI - X), ao cabo de vitoriosas lutas contra os turcos, sucessores dos hsiung-nu. Com a decadência de Tang, a Rota da Seda novamente escapou aos chineses, embora seu intercâmbio comercial e cultural com o Oeste continuasse. O Império Yuan (séculos XIII - XIV) unificou quase toda a Ásia, unindo os Urais ao Pacífico e permitindo o intercâmbio Oriente - Ocidente numa escala até então nunca vista. Mas seus senhores eram os mongóis, não os chineses. Os Ming (séculos XIV - XVII), seus sucessores; adotaram uma política isolacionista, não se preocupando com a Ásia Central e suas rotas, disputadas pelo conquistador turco Timur (Tamerlão) aos remanescentes mongóis. Só no século XVIII, sob a Dinastia Mandchu, novamente os chineses voltaram a se expandir pelo Turquestão, lançando as bases de suas fronteiras atuais, bem como de suas desavenças com os russos, também já em fase de expansão para o Oriente. Mas nessa época a Rota da Seda já perdera a importância que tivera no passado, conservando apenas funções secundárias ligadas ao comércio local. Atualmente, vemos novamente obstruídos os caminhos da Ásia Central, ligando a Ásia Ocidental ao Extremo Oriente através do Turquestão, não mais por hordas de nômades como no passado, mas sim por divergências ideológico-políticas e pelo conflito sino-soviético.

Intervenções
Do Prof. Eurípedes Simões de Paula (FFCL-USP)Pergunta se os mercadores chineses entraram em contacto com mercadores persas no Ferghana na época da viagem de Chang Ch'ien?
Da Profª. Maria Regina da Cunha Rodrigues Simões de Paula (FFCL-USP)Solicita esclarecimentos sobre o tipo de relações entre o Império Chinês e os nômades da estepe?
Indaga por que Chang Ch'ien afirma que os cavalos de Ferghana "suavam sangue"?
Do Prof. Reynaldo Xavier Carneiro Pessoa (FFCL-USP)Congratula-se com o Autor pela contribuição aos estudos relacionados com a região centro-asiática. Por outro lado, quer lembrar ao colega que as lutas travadas por um longo tempo na Ásia Central, na Antigüidade e Idade Média, têm razão de ser na pouca ou nenhuma fertilidade da região: um dos seus fatores fundamentais. A necessidade da subsistência origina as lutas contra os sedentários vizinhos e saques aos comboios caravaneiros.
Pergunta se os cavalos pequenos utilizados pelos mongóis não seriam talvez os animais próprios para a paisagem estépica, pelo menos ele assim o acredita. Julga mesmo ter sido esse um dos motivos que possibilitou a grande mobilidade do citado povo quando de suas campanhas na Ásia Ocidental e Europa Oriental e Central.
Respostas do Professor Ricardo Mário Gonçalves
Ao Prof. Eurípedes Simões de PaulaEntraram, como se pode concluir da análise do texto de Ssu-ma Ch'ien, que não só fala da mobilidade dos mercadores persas, sempre viajando por várias regiões da Ásia Central, mas também menciona inúmeras embaixadas chinesas à Ásia Central, cuja principal função é realizar trocas comerciais, ainda que mascaradas sob um aparato etnocentrista que fala em "tributos" enviados pelos "vassalos bárbaros" ao Imperador da China e em "presentes" mandados por estes último a seus súditos.
À Profª. Maria Regina da Cunha Rodrigues Simões de PaulaQuanto ao problema dos cavalos, são chamados "cavalos que suam sangue", por causa de uma doença, comum nas regiões da Ásia Central, que faz com que se rompam facilmente os vasos capilares próximos à pele do animal, fazendo o sangue se misturar ao suor. São realmente cavalos grandes e fortes e, embora talvez não fossem tão bons para a estepe como os pequenos cavalos usados por hunos e mongóis, eram extremamente procurados pelos chineses, como atestam as fontes literárias e a presença constante desse tipo de cavalo na pintura e na escultura chinesas, principalmente no Período Tang.
Ao Prof. Reynaldo Xavier Carneiro Pessoa.
Realmente, o problema da pobreza dos nômades em relação a seus conflitos com o Império Chinês existe e se acha presente no próprio texto de Ssu-ma Ch'ien, embora disfarçado pelas idéias atinentes ao sinocentrismo (etnocentrismo chinês). Uma análise estrutural (que pretendemos futuramente fazer) do texto de Ssu-ma Ch'ien revelaria perfeitamente o sistema de trocas e relacionamento vigente entre chineses e nômades. De um lado temos os nômades pastores, pobres, mas detentores de produtos comerciais exóticos que os chineses ambicionam, de um outro os chineses, agricultores, ricos em produtos que os nômades necessitam. Assim, um grupo depende de certa maneira do outro e, quer na paz, quer na guerra, o sistema de trocas funciona, mascarado pela ideologia sinocentrista: uma China situada no Centro do Mundo, cujo governante, o Filho do Céu, impera sobre todos os "bárbaros" de além-fronteiras; recebendo seus "tributos" e enviando-lhes "presentes". Quando há guerra, o sistema se mantém, uma vez que os nômades saqueiam as plantações dos sedentários e estes por sua vez se apoderam dos produtos comerciais exóticos pela força.

1. São poucos os estudos sobre Ssu-ma Ch'ien e sua obra publicados no Ocidente. O mais antigo trabalho. já consagrado como um verdadeiro clássico na matéria é CHAVANNES (Edouard), Les Mémoires Historiques de Se-ma TS'ien, 6 volumes, Paris, E. Leroux, 1895-1905. Esse trabalho contém a tradução francesa das 47 primeiras partes da obra de Ssu-ma Ch'ien, precedida por um longo - prefácio onde se estudam a época, a vida, o método e as fontes do historiador chinês. Mais recentes são os trabalhos de Burton Watson, ex-bolsista de História Chinesa da Universidade de Kyoto, atualmente professor da Universidade de Columbia:
a) Ssu-ma Ch'ien, Grand Historia of ChinaNew York, Columbia University Press, 1958. É uma excelente introdução à obra de Ssu-ma Ch'ien, abordando as origens da historiografia chinesa, a época e a vida do historiador, a estrutura de sua obra, seu método e sua concepção da História. Existe tradução japonesa publicada pela Chikumsa Shobô em 1965.
b) Records of the Great Historian of China translated from the Shih chi of Ssu-ma Ch'ien2 volumes, New York. Columbia University press, 1962. É uma tradução acompanhada de notas explicativas, das 65 partes da obra diretamente relacionadas com a Dinastia, Han. O relato da viagem de Chang Ch'ien estão no 29 volume, págs. 264-269.
2. IWAMURA (Shinobu), Silk Road, Tokyo, NHK, 1966, p~ 111-115: INOUE (Yasushi) e IWAMURA (Shinobu), Saiiki [Asia Central], Tokyo. Chikuma Shobô, 1966, p. 133-135. KAYAMA (Yohei), Sabaku to Sôgen no Ihô - Chuô Asia no Bunka to Rekishi [Tesouros Perdidos do Deserto e de Estepe - História e Culturas da Asia Central], Tokyo, Kadokawa, 1963, págs. 43-46.
3. SSU-MA (Ch'ien), Shih-Chi(tradução japonesa de Fumio e Takeo Ko­take), 2 vols., Tokyo , Chikuma Shobô, 1962, 2o. vol., pág. 378-381: SSU-MA (Ch'ien), Shih-Chi,3 volumes, Taipeh. 1960, 3o. volume, págs. 1.009-11.011.
4. Ferghana, bacia situada ao longo do curso superior do Sir-Dária, a ocidente da bacia do Tarim, a leste de Bukhara e ao norte do Amu-Dária. Uma das regiões da Ásia Central onde mais remotamente se desenvolveu a agricultura. Importante centro comercial, era habitada na época por população Iraniana. Suas ruínas estão sendo atualmente estudadas por arqueólogos soviéticos.
5. A historiografia oficial chinesa, centralizada nas iniciativas governamentais, dá a impressão de que os contatos da China com a Ásia Central se iniciaram com Chang Ch'ien. Este porém não dá início senão ao intercâmbio oficial. Anteriormente, produtos da Ásia Central como o jade de Khotan já chegavam à China e a própria seda chinesa, por intermédio dos hsiung-nu, que esporadicamente comerciavam com os chineses, não obstante as hostilidades entre ambos os povos, era comerciada na Ásia Central e Ocidental. (MATSUDA) (Hisao), Sabaku no Bunka - Chuô Asia to Tôzai Koshô [As Culturas do Deserto - A Ásia Central e Intercâmbio Oriente-Ocidente], Tokyo, Chuô Kôron, 1968, p. 102-107; 138-142).
6. 140-135 a.C.; a viagem de Chang Ch’ien se iniciou provavelmente em 139 a.C.
7. Titulo dado aos imperadores chineses. O texto se refere ao Imperador WU-TI.
8. Reino independente situado no Sul da China.
9. Povo nômade de origem turca que habitava a Estepe dos Kirghises.
10. Os yueh-chih ocupavam então a região da Sogdiana, ao norte do rio Amu-Dária.
11. Região da Báctria, então ocupada pelos nômades tokharianos, que alguns autores confundem com os yueh-chih. Os tokharianos foram responsáveis pela destruição do reino grego da Báctria.
12. Chefe hsiung-nu inferior ao shan-yu.
13. Medida chinesa de comprimento, que no Período Han correspondia a 405 metros.
14. Povo nômade de origem turca que habitava a vertente norte dos montes Tien-Shan ocidentais, ou seja, a região do Semireche, no Turquestão ocidental.
15. Khotan, oásis situado no sul da bacia do Tarim, ao norte dos montes Kuen-Lun. Importante centro comercial, era habitado na época por população iraniana.
16. Mar Cáspio.
17. Lago Lob-Nor. Esta porção do relato está de acordo com o fato de que a partir da altura do Planalto de Pamir, a oeste, rios como o Amu-Dária e o Sir-Dária (O Oxus e o laxartes dos gregos) correm para o Ocidente. Ao passo que a leste, rios como o Tarin correm para p Ocidente.
18. Referência ao Jade, encontrado na região de Khotan e muito apreciado pelos chineses.
19. Reino situado num oásis próximo ao Lob-Nor, Kroraina, na língua nativa. Foi um importante centro comercial que, anexado pela China em 77 a. C., ainda manteve durante muito tempo sua função de mercado e ponto de passagem de caravanas. Suas ruínas foram descobertas pelo explorador sueco Sven Hedin em 1.900.
20. Turfan, reino situado na vertente sul dos montes Tien-Shan orientais, ao norte de Lou-Lan e do lago Lob-Nor.
21. Capital do Império Han, atual cidade de Si-gnan.
22. Povo nômade, etnicamente aparentado aos tibetanos, que habitava a região entre o Tibet e a China do Noroeste.
23. Nômades que habitavam a região a oeste do Mar de Aral. Mais tarde deslocam-se para a Europa, impelidos pelos hunos. Na História Ocidental são conhecidos como alanos.
24. O Mar Negro ou Mar Cáspio.
25. O Amu-Dária.
26. O Império Parta; o nome An-Hsi é corruptela de Arsaces, um dos fundadores desse império.
27. Filho de Mo-Tun.
28. Mesopotâmia.
29. Hircânia, região a sudeste do Mar Cáspio, segundo Watson; território romano, segundo Kotake; Alexandria do Egito segundo Iwamura e Império Selêucida segundo Ichisada Miyasaki.
30. Provavelmente o Golfo Pérsico.
31. Báctria.
32. Sindhu, Índia.
33. Localidade da Província de Shan-Tung, na China do Nordeste.
34. Localidade da China Meridional.
35. Na atual província de Yu-Nan, na China do Sul.
36. Wei Ching.
37. 123 a. C.
38. Li Kuang.
39. No período Han era possível escapar da pena de morte pagando determinada quantia. Era essa aliás uma importante fonte de renda para o Tesouro Imperial. O historiador Ssu-ma Ch'ien, que não dispunha de recursos, só se livrou da pena de morte submetendo-se à castração.
40. Ho Ch'u-ping.
41. Antigo clássico chinês, empregado como oráculo.
42. Último posto fronteiriço chinês a leste do deserto de Taklamakan, próximo a Tun-Huang.
43. A Crônica de Han Anterior conserva um poema de autoria dessa princesa, exprimindo sua tristeza por ser obrigada a viver entre nômades bárbaros de costumes totalmente diversos dos chineses:
"Fizeram-me casar em terra estranha e distante, com o rei dos wun-sun.
Uma tenda é minha habitação, de feltro são suas paredes.
Meu alimento é carne; ao invés de sopa, tomo iogurte;
Constantemente penso na pátria, o coração ferido por dentro;
Quem me dera ser um cisne amarelo, para voltar à terra natal!"
44. Tribos nômades da Síria.
45. Subgrupo dos k'ang-chu.
46. Sutrishna, antiga cidade próxima a Marghilan, na Bacia de Ferghana.
47. 107 a.C.
48. A Barreira do Portão de Jade.
49. Oficiais faltosos, fugitivos, filhos adotivos, mercadores e seus descendentes grupados em quatro categorias.
50. Alto funcionário encarregado de assuntos ligados à nobreza.
51. Ssu-ma Ch'ien; todos os capítulos do Shih Chi terminam com um parágrafo precedido dessa fórmula, no qual o historiador apresenta seus pontos de vista, comentários pessoais aos indivíduos ou aos eventos, discussão de fontes etc.
52. Antigo texto hoje perdido.
53. Antigo clássico chinês.
54. Antigo tratado chinês de geografia fantástica, mencionando lendas, animais fabulosos e outros prodígios.


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