Versão A. Bueno [2005/2012]
O que o céu concedeu ao
ser é chamado Natureza humana; seguir esta Natureza é o que se chama Caminho;
seguir o Caminho é o que se chama Educação.
O caminho não pode ser
abandonado por um só instante; se pudesse, não seria o caminho. Por isso, o ser
superior espreita o que seus olhos não podem ver e atenta-se ao que os ouvidos
não podem ouvir.
Não há nada mais
visível do que o que não se busca ver, nada mais palpável que o intocado. Por
isso o ser superior presta atenção diligentemente a si mesmo.
Enquanto o
contentamento ou a raiva, a tristeza ou a alegria ainda não despertaram, temos
a centralidade. Quando estas paixões despertam de forma equilibrada e medida,
temos a Harmonia (Medida). A Centralidade é o grande fundamento do mundo; a
Harmonia, o caminho universal.
Quando a centralidade e
a harmonia forem levadas ao seu ponto supremo, céu e terra estarão em seus
lugares, e todos os seres prosperarão.
*
A vida do Educado é a
justa medida, a dos ignorantes, a desmedida.
A justa medida
caracteriza um Educado, pois ele se mantém, todo o tempo, em sua regulação; o
ser vulgar, porém, é insaciável em sua desmedida.
*
O Mestre disse: a justa
medida, que grandeza! Raros são aqueles que a atingiram em todo tempo.
*
O Mestre disse: porque
o caminho é pouco praticado, agora sei que os prudentes vão além, e os
ignorantes nunca o alcançam; porque o caminho é pouco estudado, agora sei que
os sábios buscam mais do que a centralidade, e os parvos não a alcançam. Entre
os seres, não há um que não coma e não beba; mas raros são os que sabem
apreciar o sabor.
*
O Mestre disse;
"Ah, como são poucos os que seguem o caminho”.
*
O Mestre disse: “como
era grande a sabedoria de Shun! Shun era, por índole, curioso, e gostava de
conversar e perguntar. Ignorava o que era ruim e valorizava o que era bom.
Tocou os extremos das coisas, inferiu o meio e o aplicou para seu povo. Este
era o grande Shun”.
*
Todas as pessoas dizem
"eu sei", mas ao caírem numa rede, armadilha ou cilada nenhuma delas
sabe o modo de escapar. Todos dizem "eu sei", mas ao encontrar a
justa medida, não conseguem mantê-la por mais de um mês.
*
O Mestre disse: “Este
era Hui! Durante toda a vida procurou a justa medida, e quando a alcançou,
agarrou-a com as mãos, guardou-a em seu peito e nunca mais a abandonou”.
*
O Mestre disse: “no
mundo inteiro, [os seres] podem governar; podem recusar honrarias e proveitos;
podem não se machucar, mesmo de pés nus; mas a justa medida, eles podem nunca
encontrar”.
*
Zilu perguntou sobre o
que é a força interior;
O Mestre disse: você
fala da força do povo do norte, da força do povo do sul, ou da sua força? Serem
pacientes e gentis, sempre retribuindo com o bem -esta é a força do povo do
sul, que os fazem uma gente de bem; viver sempre dispostos, armados e prontos a
morrer sem medo - esta é a força do povo do norte, que os fazem uma gente
forte. O sábio se acomoda a uma sem perder a outra, se mantendo firme em seu
centro, sem se inclinar para nenhum dos lados. Assim ele mostra sua força!
Quando o reino está em ordem, ele serve, não modificando a sociedade, e assim
[ele] mostra sua força! Quando o reino está em desordem, ele serve até a morte,
e assim [ele] mostra sua força!
*
O Mestre Confúcio
disse: “buscar o obscuro e o estranho, solitário, a fim de granjear um nome
póstumo; eis o que eu não faço. O Educado se conduz pelo caminho, mas alguns
abandonam-no pelo meio; eu nunca poderia fazer isso. O Educado se apóia sobre a
justa medida, vivendo desconhecido dos outros sem se importar. Isto sim, apenas
sábios são capazes de fazer”.
*
O caminho do Educado
está em toda a parte, e não é encontrado.
Maridos e Esposas podem
dele algo apreender, mas existem coisas num nível supremo que nem o sábio pode
compreender. Os mais parvos dos homens e mulheres podem praticar o caminho [em
certa medida] mas, num nível supremo, nem mesmo o sábio é capaz de vivê-lo por
inteiro.
Grandes como são o Céu
e a Terra, ainda assim o ser humano está insatisfeito. [Para o ser humano] Nada
é tão grande que não pudesse ser maior, nada é tão pequeno que não pudesse ser
menor.
Diz o Tratado das
Poesias:
"O Yuan (falcão)
voa alto nos céus e os peixes mergulham nas profundidades".
Isto é, no mais alto do
céu, ou no mais profundo oceano, o caminho pode ser encontrado. Assim, o
Educado pode iniciar sua vida nas coisas comuns, mas o nível supremo [da
compreensão do caminho] está na amplidão do cosmo [céu].
*
O Mestre disse: “o
caminho não está longe do ser humano; se dele pudéssemos nos separar, então não
seria o caminho”.
Diz o Tratado das
Poesias:
"Ao moldar o cabo
de um machado, o modelo não está longe".
Com um cabo de machado
na mão como modelo para talhar outro cabo, do mesmo modo, o sábio se serve do
homem para bem governar a humanidade. Tendo bem feito seu trabalho, ele o
encerra.
Faz reinar, em si, a
justa medida e faz crescer a reciprocidade, e não estará longe da lei moral.
Não faça aos outros o que não quer que lhe façam.
Existem quatro coisas
na vida moral de um homem, nenhuma das quais eu fui capaz de manter em minha
vida. Servir meu pai como esperaria que meu filho me servisse; isso não fui eu
capaz de fazer. Servir meu soberano como esperaria que um ministro me servisse;
isso não fui capaz de fazer. Agir para como meus irmãos mais velhos como
esperaria que meu irmão mais novo agisse para comigo; isso não fui capaz de
fazer. Ser o primeiro a comportar-me para com os amigos como esperaria que eles
se comportassem para comigo; isso não fui capaz de fazer.
Na prática das virtudes
mais ordinárias e dos cuidados mais ordinários, esforce-se sempre para corrigir
seus defeitos e economizar palavras. Adequar as ações às palavras, não é esse o
comportamento do Educado?
*
O Educado conforma-se a
condição de sua vida, e nada aspira além dela. Na riqueza e honraria, ele se
conduz como alguém rico e honrado. Na pobreza e humildade, ele se conduz como
pobre e humilde. Entre os bárbaros do Oeste ou do Norte, ele vive de acordo com
as conveniências. Em meio as maiores dificuldades, ele se conduz adequadamente
as circunstâncias, satisfeito consigo mesmo. Elevado, ele não pisa os
inferiores; em inferioridade, ele não busca o favor dos grandes. Ele se remete
somente a sua força interior, e nada lamenta; louva o Céu acima e respeita os
seres abaixo.
Por isso o Educado vive
tranqüilo, esperando por seu destino, enquanto o ser vulgar envereda por
caminhos perigosos em busca de fortuna.
Mestre Confúcio disse:
O tiro com arco é como o sábio; quando se erra o alvo, busca-se a razão em si
mesmo.
*
O caminho do Educado é
como uma longa viagem, na qual se parte com pressa, ou a um ponto alto, que se
busca alcançar pondo-se em pé.
O Tratado das Poesias
diz:
“O bom entendimento
entre esposa e filhos é como um concerto de harpa e alaúde; quando a concórdia
vive entre irmãos, esta harmonia é feliz e profunda. Estando em ordem a casa,
rejubilam-se esposa e filhos”.
Mestre Confúcio disse:
“Para um Pai e uma Mãe tudo então vai bem!”
*
O Mestre disse: “Os
poderes das forças invisíveis, como são evidentes! Eu as olho, mas não vejo, eu
as escuto, mas não entendo, elas são a realidade e a tudo são inerentes!”
São elas que fazem os
seres do mundo inteiro se purificarem pela abstinência e vestirem suas melhores
roupas para os sacrifícios. Em toda parte, elas estão presentes; às vezes sobre
nós, às vezes ao nosso redor.
Diz o Tratado das
Poesias:
A atuação das forças
invisíveis não pode ser suposta, como não pode ser ignorada. A manifestação
daquilo que há de mais sutil e impossível de olhar em toda sua realidade, isto
é o que ela é!
*
O Mestre disse: “como
era grande a piedade filial de Shun! Era um sábio virtuoso; sua dignidade foi a
de um filho do céu (=imperador); sua riqueza se estendia pelos quatro mares;
seus ancestrais receberam sacrifícios, e seus filhos e netos conservaram estes
sacrifícios [por séculos]”.
Assim é que sua
sabedoria o conduziu infalivelmente a esta dignidade imperial, a obter
prosperidade, a ter este renome e longevidade.
É assim que o Céu,
produzindo todos os seres, lhes favorece em suas disposições particulares. Tal
como a árvore, quando bem plantada, cresce; sem raízes, porém, se abate e
morre.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Admirável e amável
Príncipe,
Como brilham suas
virtudes!
No trato com o povo e
os magistrados
Recebe suas dádivas do
Céu
Protege, assiste,
investe
distribui estes
benefícios
e o Céu os renovará”.
Evidente, pois, que
esta grande sabedoria conduziu-o infalivelmente a obter o mandato do Céu.
*
O Mestre disse:
“Somente o Rei Wen foi livre de toda inquietação! O Rei Ji foi seu pai; o Rei
Wu foi seu filho; o que o pai empreendeu, o filho continuou. O Rei Wu
prosseguiu com as obras dos reis Tai, Ji e Wen; e somente uma vez vestiu seus
trajes militares, e todo o império o acompanhou. Nunca perdeu seu renome, e sua
dignidade era a de um Filho do Céu (Imperador). Sua riqueza se estendia pelos
quatro mares, seus ancestrais recebiam sacrifícios, e seus filhos e netos
conservaram estes sacrifícios [por séculos].”
“O Imperador Wu recebeu
o mandato do céu ao fim de sua vida; o Duque Zhou continuou as obras de seus
predecessores (Wen e Wu). Elevou a condição de reis os ancestrais Tai e Ji,
oferecendo-lhes o sacrifício destinado ao Filho do Céu”.
Estas são as regras
rituais que se estendem aos príncipes, nobres, oficiais e gente do povo. Uma
regra para os funerais foi traçada; quando um nobre morria e seu filho era
apenas um oficial, os sacrifícios que este lhe rendia eram os de um nobre e o
luto, de um oficial; quando um simples oficial morria e seu filho era um nobre,
os sacrifícios que este lhe rendia eram os de um oficial, e o luto, de um
nobre. O Luto de um ano era destinado aos nobres, e o de três anos ao filho do
Céu. O luto por Pais e Mães tem a mesma duração [três anos], sem distinção
entre os nobres e o povo.
*
O Mestre disse; “Que a
piedade filial do Rei Wu e do Duque Zhou se estenda longinquamente! Esta
Piedade Filial, apta a continuar as vontades de seus pais, persevera em suas
obras. Na Primavera e no Outono, eles (Wu e Zhou) restauravam o templo dos
ancestrais, dispunham os utensílios rituais, apresentavam suas insígnias e
ofertavam alimentos da estação”.
“As cerimônias do
templo ancestral determinavam a entrada dos assistentes à esquerda ou à
direita, segundo sua classe e hierarquia, permitindo distinguir seus níveis de
dignidade. Distinguindo os assistentes dos nobres, eram divididas as funções
cerimoniais de acordo com o mérito cada um. Após a cerimônia, acontecia então o
banquete, onde a cor dos cabelos permitia ordenar as pessoas por sua idade
(=moços servir mais velhos)”.
“Reunir-se no mesmo
lugar que nossos ancestrais; cumprir as mesmas cerimônias, tocar a mesma música
que tocaram antes de nós; honrar os que nos honraram, amar a estes que nos
foram tão próximos, servir aos mortos como se ainda estivessem vivos, e após
sua desaparição como se ainda estivessem presentes; esta é a piedade filial!”
“As cerimônias
executadas em honra do Céu e da Terra servem ao Senhor do Alto. As cerimônias
do Templo Ancestral sacrificam aos parentes mortos. Aquele que compreender o
significado dos sacrifícios ao Céu e a Terra, dos sacrifícios outonais aos
ancestrais, este pode governar o mundo tão facilmente como olhar para a palma
da mão”.
*
O Duque Ai quis saber o
que constituía um bom governo.
Confúcio respondeu -
"Os princípios de bom governo dos Imperadores Wen e Wu se encontram
ilustrados nas tiras de bambu.* Quando tais homens existem, o bom governo
floresce; porém, quando tais homens se vão, o bom governo desaparece”.
O Caminho dos seres humanos
favorece o bom governo, tal como o Caminho da Terra favorece o florescer das
plantas. O bom governo é como a rosa e o junco; é por isso que ele repousa
sobre as pessoas. Aquelas pessoas ditas justas são assim chamadas graças ao seu
caráter moral; o cultivo de sua personalidade moral se dá pelo Caminho (dao); e
o cultivo do Caminho se dá pelo senso de humanidade (ren).
O senso de humanidade é
o que faz as pessoas afeiçoarem-se aos que estão próximos; a equidade os
equilibra.
Honrar as pessoas de
valor é a prática da equidade.
A ordem de afeição dos
que estão mais próximos e os diversos graus de respeito correspondentes ao
valor das gentes são promovidos pelas regras do comportamento social.
Por isso, o justo não
pode negligenciar sua personalidade moral; se o fizer, não pode servir aos seus
parentes; se não pode servi-los, não pode conhecer os seres humanos; não os
conhecendo, não pode servir ao céu.
As vias comuns a todo o
mundo são cinco, e os meios pelas quais elas se movimentam são três. Os deveres
são os compreendidos entre o governante e o governado, entre pai e filho, entre
marido e mulher, entre o irmão mais velho e o mais novo, e entre os amigos. São
essas as cinco vias comuns a todo o mundo. Sabedoria, humanismo e coragem - são
esses os três meios do homem, conhecidos por todo o mundo; e o são porque todos
os põem em prática.
Seja Conhecendo isso
por si próprio
Seja Conhecendo isso
pelo aprendizado
Seja Conhecendo isso
por duras penas
Quando o conhecimento é
dedicado, ele é Um
Seja pela serenidade
advinda da prática
Seja pelo interesse
advindo do estudo
Seja pelo efeito de um
grande esforço
Quando o resultado é
obtido, ele é Um!
O Mestre disse: “o amor
ao saber está próximo da sabedoria. O devotamento está próximo do humanismo; a
sensibilidade à vergonha está próxima da coragem”.
Quem conhece estas três
coisas sabe como cultivar sua personalidade moral.
Quem sabe cultivar sua
personalidade moral sabe como governar os seres; quem sabe governar os seres
sabe como governar as famílias e principados de todo o mundo. Ao conceder
encargos às famílias e principados, existem nove regras a serem observadas:
cultivar a personalidade moral, honrar os sábios, cuidar dos próximos,
respeitar os grandes oficiais, atender estes mesmos oficiais, tratar o mais
humilde como seu filho, trazer artesãos de todo o mundo, acolher estrangeiros e
ter interesse pelo bem estar dos príncipes.
Ao cultivar sua
personalidade moral (o governante), estabelece o caminho a ser seguido.
Ao honrar os sábios,
ele não arrisca enganar-se. Ao cuidar dos próximos, não haverá ressentimentos
familiares. Ao respeitar os grandes oficiais, ele não arrisca errar. Ao atender
os grandes oficiais, ele mostra o respeito. Quando os humildes são tratados
como filhos, se sentem encorajados. Quando ele manda vir artesãos de todo o
mundo, sempre haverá produção (= trabalho e riqueza). Se ele bem acolhe os
estrangeiros, eles afluirão para o seu reino. Quando ele tem interesse pelo bem
estar dos príncipes, ele será reverenciado em todo o império.
Purificar-se pela
abstinência e ter uma túnica perfeita; não seguir outro caminho senão o das
regras de conduta; eis como cultivar a personalidade moral. Afastar
conspiradores e banir a volúpia; fazer pouco da riqueza, mas dar tudo em troca
da virtude; eis como encorajar pessoas de valor. Honrar sua posição,
compartilhar seus reveses, dividir suas afeições e aversões: eis como cuidar
dos próximos. Empregá-los somente em seu serviço: eis como honrar os grandes
oficiais. Dar-lhes confiança e crédito; eis como atender os grandes oficiais.
Empregá-los no momento conveniente e cobrar-lhes pouco imposto; eis como
encorajar a gente humilde. Proceder a verificações, requisições e inspeções
periódicas, retribuindo aos artesãos adequadamente os serviços; eis como
estimular a produção. Recebê-los bem, protegê-los, valorizar suas aptidões e
perdoar sua ignorância (dos costumes); eis como bem acolher os estrangeiros.
Resgatar a posteridade gerações sem descendentes, reviver principados tombados,
restaurar a ordem social e sustentar reinos em perigo, receber em sua corte
príncipes e seus enviados e datas marcadas, tratando-os bem e dando-lhes poucos
encargos; eis como se demonstra interesse pelo bem-estar dos príncipes.
Porque, ao conceder
encargos às famílias e principados de todo o mundo, existem nove regras a serem
seguidas, e o meio de pô-las em prática é apenas um;
Em todas as coisas,
aquele mais preparado obterá mais sucesso.
O que estiver menos
preparado fracassará.
Se determinarmos antes
o que falar, não erraremos.
Se determinarmos antes
o que fazer, não faliremos.
Se determinarmos antes
como nos conduzir, não sofreremos.
Se determinarmos antes
o caminho, não nos perderemos.
Se aqueles que estão
numa posição inferior não obtêm a confiança de seus superiores, o povo não pode
esperar ser bem governado.
Só há um meio de obter
confiança para os superiores; se alguém não confia nos amigos, não confia nos
superiores; só há um meio de obter a confiança de amigos; se alguém não confia
em seus parentes, não confia nos amigos; só há um meio de obter a confiança dos
parentes; se alguém, olhando a si mesmo, não sente confiança em sua
autenticidade realizante, não pode confiar em seus parentes. Só há um meio pelo
qual alguém obtém a confiança de seu íntimo (autenticidade realizante); Se ele
obtém uma clara consciência do que é bom, ele obterá confiança em si próprio.
A autenticidade
realizante com si próprio é o Caminho do Céu; acender a esta sinceridade é o
Caminho dos Seres Humanos.
Aquele que é sincero
consigo mesmo chega ao justo (Centralidade) sem esforço, compreende sem pensar,
e segue facilmente pela medida (Caminho); este é o sábio.
Buscar esta sinceridade
consigo mesmo é acolher o bem dentro de si e o manter de forma firme; estude
para ampliá-lo, busque-o com precisão e raciocine com atenção, discernindo-o
com clareza, e o pondo em prática por completo em tudo que fizer.
Há pessoas que não
estudam, ou estudando, não buscam ampliar [o Bem], mas não o abandonam [o
Caminho]. Há pessoas que não o buscam, ou buscando-o, não fazem com precisão,
mas não o abandonam. Há pessoas que não raciocinam, ou raciocinando, não o
fazem com atenção, mas não o abandonam. Há pessoas que não o discernem, ou
discernindo-o, não fazem com clareza, mas não o abandonam. Há pessoas, por fim,
que não o põe em prática; ou pondo-o, não o fazem por completo, mas não o
abandonam.
O que os outros fazem
uma vez, elas fazem cem vezes;
O que os outros fazem
dez vezes, elas fazem mil vezes;
Se alguém for capaz de
realmente seguir este caminho, seja um tolo, ele se esclarecerá; seja um fraco,
ele se fortalecerá.
*formato dos livros na
China Antiga
*
Atingir uma clara
consciência do bem pela perfeição moral, a isto se chama natureza humana;
atingir a perfeição moral por uma clara consciência do bem, a isto se chama
instrução. A perfeição moral nasce de uma clara consciência do bem; e a clara
consciência do bem nasce da perfeição moral.
Capítulo 22
Somente os que possuem
uma total perfeição moral podem manifestar por completo sua natureza humana;
somente os que possuem uma natureza perfeita podem fazer aflorar a natureza dos
outros; e apenas os que podem fazer aflorar a natureza dos outros podem fazer
aflorar a natureza das coisas. Aqueles que podem fazer aflorar a natureza das
coisas podem ajudar o Céu e a Terra em sua criação; podendo ajudar o Céu e a
Terra em sua criação, podem então ser como o próprio Céu e a Terra.
*
Os que vêm logo depois
dos sábios perfeitos são aqueles que conseguem atingir o domínio de um aspecto
de sua natureza; através dela, eles podem atingir a autenticidade realizante. A
[busca] da perfeição os conduz ao conhecimento; o conhecimento os conduz a
manifestação; a manifestação os conduz a iluminação; a iluminação os conduz ao
movimento; o movimento os conduz a modificação; a modificação os conduz a transformação.
Somente aqueles que conseguem atingir a autenticidade realizante, em todo
mundo, conseguem realizar transformações.
*
O Caminho da perfeição
permite, num estágio avançado, conhecer o futuro. Quando um reino ou uma
linhagem está preste a surgir, necessariamente aparecem bons augúrios; quando
um reino ou uma linhagem está preste a desaparecer, necessariamente aparecem
maus augúrios. Estes presságios se manifestam pelas varetas ou pelas
tartarugas, se traduzindo em movimentos diferentes em seus quatro membros.
Quando o bem ou o mal hão de chegar, eles podem ser previstos. Quando [o
momento] é favorável, vai-se adiante; quando é desfavorável, [também] vai-se
adiante; isso porque a perfeição moral é, num estágio avançado, como a dimensão
do próprio espírito.
*
A perfeição moral
realiza-se por ela mesma; do mesmo modo, o caminho realiza-se por si próprio. A
perfeição moral é o fim e o início de todos os seres; sem ela, nada existe. É
por essa razão que o Educado conserva-a como um valor. A perfeição moral é a
realização por ela mesma, e também o meio pelo qual as coisas se realizam.
Realizar a si próprio corresponde ao senso de equidade humana; realizar as
coisas corresponde ao conhecimento. Esta é a capacidade de nossa natureza, o
caminho que une o interno e o externo; por isso, em qualquer momento, ela está
aberta [é mutável], adaptando-se [as circunstâncias].
*
Assim, a busca pela
perfeição moral, em seu estado supremo, é sem interrupção. Não se
interrompendo, ele se estende indefinidamente; se estendendo, ela se manifesta;
se manifestando, ela tudo abrange; tudo abrangendo, ela ganha amplidão e
consistência; ganhando amplidão e consistência, ela adquire clareza e altura.
Amplidão e consistência
são o que a permite conservar os seres; clareza e altura são o que a permite
cobrir os seres; abrangência e extensão são o que a permite fazer os seres existirem.
Amplidão e consistência
são como a Terra; altura e claridade como o Céu; abrangência e extensão são
ilimitados.
Sendo esta a natureza
da autenticidade realizante, ela se manifesta sem se mostrar, modifica sem
fazer movimentos, chega ao fim sem ação. O Caminho do Céu e da Terra pode ser
assim resumido numa fórmula: sua ação nunca é dupla, ela é perfeita, e engendra
os seres de modo imensurável.
O Caminho do Céu e da
Terra é amplo, consistente, alto, claro, abrange tudo, se estende ao longe.
O Céu, como podemos
observar, é apenas uma massa brilhante e brilhosa; mas em sua extensão
imensurável, o sol, a lua, as estrelas e as constelações nele estão suspensos,
e todas as coisas são por ele abrangidas.
A Terra, como podemos
observar, não passa de uma mão cheia de pó; mas em toda sua amplidão e
consistência sustém as montanhas Hua e Yue sem recear seu peso; contém rios e
mares sem deixar se desfazer, e todos os seres ela conserva.
A montanha, como
podemos observar, é apenas uma massa de rocha; porém em toda sua amplitude e
vastidão, as plantas e árvores nela crescem, os pássaros e quadrúpedes nela
moram, e tesouros preciosos (=minérios) são nela encontrados.
A Água, como podemos
observar, ao longe parece não encher um copo; mas, em suas profundezas
insondáveis, tartarugas gigantes e crocodilos, todas as espécies de dragões,
peixes e enguias lá vivem, riquezas e mananciais nela abundam.
No Tratado das Poesias
está escrito:
“A Lei do Céu, como é
profunda e jamais cessa!”
Por isso se diz que o
Céu é o Céu.
“Ah, Como era pura a
capacidade [moral] do Rei Wen”.
Por isso se diz que o
Rei Wen era o que era: pureza [moral] que jamais cessa.
*
Oh! Como é vasto o
caminho do sábio! Transborda por todos os lados, alimenta todos os seres e, em
sua elevação, toca o céu. Oh! Como seu domínio é amplo! [Ele abraça] os
trezentos princípios rituais, as três mil regras de conduta! Ele espera por um
ser que o ponha em prática. É por isso que se diz: “Quando o caráter moral está
ausente, o caminho da perfeição moral não pode ser posto em prática”.
É por isso que o
Educado respeita a natureza de sua capacidade, ao mesmo tempo em que ele não
cessa de estudar e de se aperfeiçoar. Expande seus conhecimentos a amplidão, e
busca o sutil e o fim [das coisas]. Procura atingir o mais alto e o mais claro,
ao mesmo tempo em que conduz sua vida pela justa-medida. Revelando o antigo,
descobre o novo. Sincero e profundo, respeita as exigências rituais.
Portanto, quando está
numa posição de autoridade, não é orgulhoso; na posição de subordinado, não é
insubordinado. Quando há ordem social moral no país, seus ditos trarão
prosperidade à nação; quando não há ordem social moral no país, bastará seu
silêncio para garantir-lhe segurança.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Porque o sábio é
esclarecido, ele pode preservar-se de todo o perigo”
É o que foi dito
anteriormente.
*
O Mestre disse: “um ser
ignorante que se deixa levar pelo próprio julgamento; uma pessoa de nível
inferior que espera agir com autoridade; alguém que, vivendo em nossa época,
busca reviver costumes antigos; este atrairá para si um grande mal”.
“Somente o Filho do Céu
pode deliberar sobre os ritos e determinar as medidas e fixar os caracteres da
escrita. Hoje, em todo o mundo, as carruagens seguem as mesmas rotas, os textos
são escritos nos mesmos caracteres, os condutores seguem as mesmas regras.
Mesmo que alguém possua um cargo elevado, se ele não possui a capacidade moral
conveniente, ele não pode se permitir inovar nos ritos e na música [=cultura];
e, mesmo que ele tenha a capacidade moral conveniente, mas não ocupe alta
posição, ele não pode se permitir inovar nos ritos e na música”.
O Mestre disse: “eu
posso falar dos ritos de Xia, mas os habitantes de Qi pouco podem testemunhar
[sobre ele]. Eu estudei os ritos de Yin, e em Song eles subsistem; eu estudei
os ritos de Zhou, e hoje estão em uso; são estes que eu sigo”.
*
Para reinar sobre o
mundo, são necessárias três coisas importantes; os ritos, os costumes e a
escrita. Graças aos que cometeram os mais graves erros, mesmo aquilo que, num
passado distante, foi muito bom, não pode hoje ser atestado; não sendo
atestado, não pode suscitar adesão; não suscitando adesão, o povo não pode
segui-lo; da mesma maneira, o que emana de uma posição inferior não pode ser
honrado; se não é honrado, não pode suscitar adesão; se não suscita adesão, não
pode ser seguido.
Por isso, o Caminho do
soberano é fundamentado na personalidade moral dele mesmo, e é atestado por
todo o povo; pauta seu governo nos três reis [=fundadores das três dinastias],
e não se engana; legisla de acordo com o Céu e a Terra e não é contradito;
afirmando-se perante espíritos divinos, não sofre censuras; mesmo que seja
preciso esperar cem gerações até que venha o sábio [para confirmá-lo], ele não
está sujeito a erros. Quando confrontado com os espíritos divinos, sem sofrer
censuras, ele conhece o Céu [=o mandato celeste]; quando espera por cem
gerações pela vinda do sábio que o vêm confirmar, ele conhece o homem.
Assim, tal soberano,
quando se movimenta, o mundo segue seu caminho; quando se agita, o mundo segue
sua conduta; quando fala, o mundo segue sua regra. Os que estão longe sentem
sua ausência; os que estão perto dele não se afastam.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Sem aversão, sem
preocupação também; assim, noite e dia, perpetuam sua glória”.
Não houve nenhum
sábio-soberano que não fosse assim, se lhe foi feito o renome em todo o
império.
Capítulo 30
Transmitir os
ensinamentos de Yao e Shun, seus ancestrais, seguir o modelo de Wen e Wu.
No alto, se regular
pelo curso do Céu; em baixo, se regular pela alternância da Terra e da Água.
Comparar-se ao Céu e a Terra que tudo contém e provê, que tudo cobre e envolve;
as estações do ano, que mudam suas cores; ao sol e a lua, que brilham
alternadamente.
Todas as coisas
criam-se juntas, sem anularem-se umas as outras; seguem seu curso, sem se
oporem umas as outras. As pequenas seguem o curso das ribeiras; as grandes se
transformam. Isto é que faz a magnitude do Céu e da Terra.
*
Somente, no mundo, o
sábio absoluto está na medida de possuir o entendimento, a vidência, a
penetração e o conhecimento, de modo a poder exercer o domínio;
Ânimo, generosidade,
doçura e paciência, de modo a poder fazer valer a compreensão;
Energia, força,
durabilidade e resistência de modo a ser capaz de firmar-se;
Comedimento, gravidade,
centralidade e retidão, de modo a se fazer responsável;
Ordenação, coerência,
fineza e atenção, de modo a ser capaz de discernir.
[só o sábio é] Vasto,
amplo, profundo, inesgotável como uma fonte sempre brotando, vasto e amplo como
o Céu, e como as mais profundas águas.
Assim que um homem
dessa força fizer sua aparição no mundo, todos o reverenciarão. Tudo o que ele
disser, todos acreditarão. Tudo o que fizer, o povo ficará satisfeito. Desse
modo sua fama e seu nome se espalharão e encherão todos os principados da Terra
do Meio (=China), estendendo-se mesmo até os povos do norte e do sul, onde quer
que alcancem os navios e as carruagens, onde a força do homem penetrar, onde
quer que os céus abriguem e a terra sustenha, onde quer que o sol e a lua
brilhem, onde quer que a geada e o orvalho caiam. Todos os que tiverem vida e
alento o honrarão e o amarão. Portanto podemos dizer - Ele é igual a Céu.
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Somente, no mundo, quem
realizou sua perfeição moral, em estado supremo, pode pôr em ordem e ajustar as
grandes relações da natureza, fixar os princípios fundamentais do mundo e
compreender as leis pelo qual o Céu e a Terra se transformam e se reproduzem.
Senso moral insondável, Profundeza ilimitada, natureza celeste infinita; se não
possuirmos em si o entendimento – vidência que constitui a sabedoria do sábio
para chegar ao poder do Céu – como podemos ter este conhecimento?
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Diz o Tratado das
Poesias;
“Por cima de sua roupa
de brocado, ele usava um traje de uma só cor”, o que evitava a ostentação de
qualquer adorno. Assim é o Caminho do Educado, obscuro em seu cotidiano, porém
cada dia mais ilustre; já o do ser vulgar, este é brilhante todos os dias, mas
leva-o inevitavelmente a decadência. O Caminho do Educado é duro, mas não é
cansativo; é simples, porém alegre; terno e, no entanto, harmônico.
Aquele que conhece o
distante e o próximo, de onde vêm e para onde vai, e que tem consciência da
manifestação das coisas mais ínfimas, este pode acender a virtude.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Mesmo que o peixe
mergulhe profundamente na água, ele pode ser visto”.
Assim o Educado se
examina interiormente para verificar se está sem defeitos, e se suas intenções
não são reprováveis. O que o sábio não pode achar em si é aquilo que os outros
homens não percebem em si mesmos.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Olhe em sua intimidade
se não há nada do qual você possa se envergonhar, mesmo estando no mais ermo
lugar”.
Assim o Educado se faz
respeitoso, mesmo mantendo silêncio.
Diz o Tratado das
Poesias:
“A oferenda foi
apresentada, os espíritos se aproximaram - sem uma palavra, neste momento, toda
contenda foi afastada”.
Assim o bom soberano
não precisa oferecer recompensas para que o povo seja encorajado; e sem
demonstrar cólera, não utiliza castigos para dominá-lo.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Ele não manifesta suas
capacidades, e ainda assim todos os príncipes o imitam”.
Assim o bom soberano investe
na vigilância de seu íntimo e o mundo todo entra em paz.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Guardo comigo a
virtude que não faz barulho nem espetáculo”.
O Mestre disse: “entre
os meios que possuímos de transformar o povo, o “barulho” e o “espetáculo” são
os extremos”.
Diz o Tratado das
Poesias:
“Sua virtude era leve
como uma pluma”
Embora uma pluma possa
ser medida, o Caminho do Céu se completa sem sons nem cheiros; eis o estado
supremo!