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Laozi e o Daodejing, ou Tratado da Virtude e do Caminho

Tão influente quanto o confucionismo na história chinesa, a escola daoísta (Daojia, ou Escola do Caminho) iniciou sua organização aproximadamente entre os séculos VI - V a.C., em torno dos ensinamentos de um sábio chamado Laozi (séc. VI a.C.?), que teria construído a base filosófica deste sistema. Segundo uma biografia posterior, o desgosto com a sociedade que o cercava teria levado Laozi a buscar uma outra via, um Caminho (Dao) que propiciasse a harmonia direta do ser com a natureza a recuperação de uma identidade humana original que teria se distorcido por causa da decadência da cultura. Seus primeiros escritos abordam de forma quase herética questões como o desapego, a origem do cosmo, politica, sabedoria, etc. Esta condição filosófica, porém, seria relativamente perdida posteriormente com a transformação do daoísmo numa religião. Laozi teria escrito apenas um livro, o Daodejing, ou Tratado da Virtude e do Caminho.


LIVRO 1: OS PRINCÍPIOS DE TAO



I. O PERFEITO TAO



O Tao de quem se pode falar

Não é o Tao Absoluto.

Os nomes que podem ser dados

não são os verdadeiros nomes.



O nome é a origem do Céu e da Terra.

O Nome é a Mãe de todas as Coisas.



Portanto:

Há quem se dilacere constantemente de paixão

Com o intuito de surpreender o Segredo da Vida

E quem constantemente encara a vida com ânsia

afim de ver seus resultados se manifestarem.



Mas ambos (o Segredo e suas manifestações)

no âmago são uma e a mesma coisa,

a qual se deu os nomes mais diversos,

conforme cada qual se manifesta.



Ambos podem ser chamados o Cósmico Mistério (1):

a partir do simples Mistério para o Mistério mais Profundo.

Eis o portão do segredo (2) de toda a vida.





II. A ORIGEM DAS AFINIDADES OPOSTAS



Quando todos os povos da Terra descobrem a beleza da beleza,

entre eles surge também a noção da fealdade.

Quando todos os povos da Terra descortinam a bondade do bem,

entre eles também desponta o reconhecimento do mal.



Portanto:

o ser e o não ser interdependem no seu desenvolvimento;

o difícil e o fácil interdependem em sua estrutura;

o longo e o breve interdependem no seu contraste;

o alto e o baixo interdependem na sua posição;

o som e o silêncio interdependem na formação da harmonia;

frente e costas interdependem numa só companhia.



Portanto, o Homem Prudente:

dirige negócios sem operar;

prega a doutrina sem palavras;

e as coisas todas tomam impulso mas ele não lhes vira as costas;



ele as verifica sem se apossar delas;

e age sem apropriação;

e atinge seus fins sem reivindicar credenciais

isto porque ele não clama por créditos

e por isso o crédito dele nunca se afasta.







III. AÇÃO SEM AGITAÇÃO

Não exaltes o mínimo (3) legislador,

pois só assim o povo não conspirará nem se amotinará;

não louves preciosidades raras,

pois assim somente o povo não as desejará roubar;

afasta da visão humana as coisas apetecíveis,

pois somente assim o coração do povo não será perturbado.



Portanto, o Sábio para governar;

mantém esvaziados de orgulho os corações (4);

mas cheios os estômagos,

desencorajando suas ambições,

mas revigorando suas disposições;

somente assim o povo é purificado em seus pensamentos e desejos.

E os astuciosos não terão a presunção de interferir (5).

Pela atividade sem agitação

Podem todos viver em paz.





IV. O CARÁTER DE TAO



Tao é profundamente penetrante (6),

e a sua utilidade inexaurível!

Imensurável!

Como a fonte mãe de todas as coisas.

Suas agudas arestas arredondadas em torno,

seus laços desatados,

sua luz difundida,

seu tumulto sufocado,

não obstante, como o claro cristal da água imóvel parece permanecer.

Seu Filho quem é não sei,

uma imagem do que existiu antes de Deus.





V. A NATUREZA



A Natureza é rude.

Ela trata a criação como cães de palha de sacrifício.

E rude é o Legislador:

Que trata o povo como cães de palha de sacrifício (7).



Como se parece com um fole o universo!

Vazio ele dá um alento que nunca esmorece;

e quanto mais acionado mais ele revivifica a chama.

Por inúmeras palavras também o espírito é exaurido.

Mas ainda assim o âmago do coração se mantém fiel (8).





VI. A ALMA DO VALE



A Alma do Vale (9) nunca morre.

Ela é chamada a Fêmea Mística (10).

E a janela dessa Fêmea Mística

é a rota do Céu e da Terra.



Continuamente, permanentemente,

ela parece sobreviver.

Puxa-a para cima.

E ela te beneficiará com facilidade (11).





VII. VIVER PARA OS OUTROS



O Universo é eterno.

E eterna sua razão de ser.

É que ele não viva só para Si mesmo (12).

Por isso pode durar tão infinitamente.



E por isso é que o Sábio se coloca em último lugar

apesar de ser o primeiro em hierarquia,

e encara seu corpo como um acidente,

embora seu corpo seja por esse meio preservado.

É que ele também não vive só para Si mesmo

E não será por isso que o seu Ego alcança a perfeição?





VIII. A ÁGUA



O melhor dos homens é como a água,

que beneficia todas as coisas

porém não compete com elas.

Ela mora nos mais humildes lugares, desdenhados por todos

lá onde mais próxima fica de Tao.



Para sua morada o Sábio também escolhe a terra obscura;

mas em seu coração ele ama tudo o que é profundo;

em suas relações com outros ele ama a bondade;

em suas palavras, ama a sinceridade;

no seu governo ama a paz;

em seus negócios ama a habilidade;

em suas atividades ama escolher a mais reta diretriz.

E é porque não entra em atrito com ninguém

que ele é irrepreensível





IX. O PERIGO DA ARROGÂNCIA NO SUCESSO



Curva-te (13) diante de um presumido,

e verás como terias desejado deter-te a tempo.

Tempera a lâmina de uma espada ao ponto mais afiado,

e seu gume não durará muito.

Quando o ouro e o jade encherem o teu vestíbulo

sentirás não ter meios de pô-los em segurança.

Quem se orgulha com a saúde e as honrarias

está semeando os germens de sua própria derrocada.

Retira-te logo que tua tarefa estiver cumprida.

Tal é o caminho da Eternidade (14).





X. ABRAÇANDO O ABSOLUTO



Ao abraçares o Absoluto com toda a tua alma,

poderás por acaso abandonar Tao?

Ao refreares tua força vital para executar uma cortesia

poderás te assemelhares a algum recém-nascido? (16)

Ao clareares e purificares tua visão Mística,

poderás competir com a perfeição?

Ao amares um povo e governares um reino,

Poderás dar regras sem interferir?

Ao abrires ou fechares os Cadeados do Céu,

poderás representar o papel da mulher? (17)

Ao compreenderes toda a sabedoria,

Poderás renunciar à inteligência? (18)





Dar nascimento, nutrir,

fazer vir à luz sem se apossar,

interferir sem apropriação,

tornar-se chefe dos homens sem levá-los ao servilismo -

Eis a Suprema Virtude.





XI. O MÉRITO DA IMPERSONALIDADE



Trinta raios formam o cubo;

Da renúncia à sua personalidade

é feito o valor da roda.

Modela no barro um vaso

e da forma impessoal de sua cavidade

e da impersonalidade dos espaços vazios

Elimina as portas e janelas da parede

e da impersonalidade dos espaços vazios

é que surge o mérito da casa.

É através da existência das coisas, portanto, que nós tiramos proveito.

E pela sua insignificância que ficamos servidos.





XII. OS SENTIDOS



As cinco cores cegam os olhos do homem;

as cinco notas de música ensurdecem seus ouvidos;

os cinco sabores entorpecem o seu paladar.

Corridas de cavalos, caçadas e conquistas femininas enlouquecem os homens.

E raros, inestimáveis bens, mantêm seus donos despertos de noite (19).

Assim sendo, o Sábio;

providencia as necessidades do Super- Ego e não as dos olhos (20).

E por essa razão rejeita um e aceita o outro.





XIII. LOUVOR E CENSURA



"Honrarias e opróbrios só servem para espalhar terror.

Tudo o que valorizamos ou tememos está dentro de nós mesmos".

Eis o que isto significa:

"Podem honrarias e opróbrios perturbar alguém?"



É que os escolhidos pelos favores do alto

perturbam-se quando os recebem

e perturbam-se também quando os perdem".



Eis a significação disto:

"Por que tudo o que valorizamos e tememos é como se estivesse dentro de nós mesmos?"

Sofremos temores porque temos um corpo (22)

Se não encarássemos isso corpo a corpo

que teríamos a temer?



Portanto, aquele que valoriza o mundo como o seu próprio ego

é que deve ser encarregado de o governar.

E o que ama o mundo como o seu próprio ser,

ao mundo é que compete zelar por ele.





XIV. ORIGENS PRÉ-HISTÓRICAS



O que viu mas não foi visto -

eis como se define o Invisível (vi).

O que ouviu mas não foi ouvido -

eis como se define o Inaudível (hsi).

O que tocou mas não foi tocado

eis como se define o Intangível (wei) (23).

Trindade esta que escapa às nossas interrogações

E daí a confusão e a transformação no Uno.



Não é por sua ascensão que existe a luz,

Nem por sua profundidade que existe a escuridão.

Incessantes e contínuas

nenhuma pode ser definida,

e acabam revertendo para o reino do nada.

Eis porque são denominadas a Forma do Amorfo,

a Imagem do Nada.

E porque esta é chamada também o Inevitável:

tenta encontrá-la e não verás sua face;

segue-a e não verás suas costas.

Aquele que sustenta firme a velhice de Tao

na intenção de dirigir os interesses do Presente

torna-se capaz de penetrar os Primevos Começos

que representam a continuidade (24) de Tao.





XV. OS VELHOS MAGOS DE ANTANHO



Os velhos magos (25) de antanho tinham sua sutil sapiência nos abismos do entendimento,

tão profundos que não podiam ser entendidos.

E porque não podiam ser entendidos

hoje não é fácil descrevê-los:

cautelosos, como se cruzassem faixas de neblina,

tímidos, como se temessem perigos ao redor,

movendo-se cerimoniosamente como hóspedes,

apagando-se tal qual o gelo que começa a derreter-se,

intactos (26) como peças de madeira virgem (27),

claros tal uma várzea aberta

e livremente mistos (28) como a água enlameada.



Quem pode encontrar repouso nesse lamacento mundo?

Permanecendo imóvel é que ele se torna limpo.

E quem pode manter a serenidade por muito tempo?

Só pela atividade é que se participa da vida.



Quem for partidário de Tao

resguarde-se contra a presunção

Quem se resguarda contra a presunção (29)

está acima da nudez total e da renovação.





XVI. A SABEDORIA DAS LEIS ETERNAS



Procura atingir a suprema Humildade (30)

Sustenta firme a base da Quietude.

Miríades de coisas se formam e se erguem para a atividade

mas eu as assisti tombarem de costas em repouso.

Assim como a vegetação que cresce luxuriante

mas retorna às raízes do chão onde nasceu.



Regressar às próprias origens, eis o que é o Repouso.

É o que se chama retornar ao seu próprio Destino.

Quem regressa à sua finalidade encontra a Eterna Lei (31)

Conhecer a Lei Eterna é o Esclarecimento.

Desconhecer a Lei Eterna é expor-se ao fracasso



Aquele que conhece a Lei Eterna é tolerante:

sendo tolerante é imparcial;

sendo imparcial é nobre (32);

sendo nobre está de acordo com a Natureza (33);

estando de acordo com a Natureza está de acordo com Tao;

estando de acordo com Tao é eterno

e sua vida inteira está preservada de danos.





XVII. OS GOVERNANTES



Do melhor dos governantes

O povo mal sabe (34) que existe.

O Próximo ama e elogia.

O Próximo o teme.

E o Próximo o recrimina



Quando aqueles não regulamentam a fé do povo,

alguns acabam perdendo a fé neles,

e passam então a recorrer aos oráculos!

Porém, o melhor disto é após os deveres cumpridos e as tarefas terminadas,

o povo inteiro observar: "Fomos nós que realizamos tudo sozinhos".





XVIII. A DECADÊNCIA DE TAO



Quando Tao cai em decadência,

as doutrinas do "amor" e da "justiça" (35) começam a surgir.

Quando a sabedoria e a inteligência apareceram

uma grande hipocrisia seguiu-as em seu rastro.



Quando as seis afinidades não puderam mais viver em paz,

lá estavam (agradecei-lhes) os "bondosos pais" e os "filhos dedicados".

Quando um país rola no caos e na anarquia,

é que houve (agradecei-lhes) "ministros leais".





XIX. REALIZA O SIMPLES EU.



Bane a sapiência, despoja-te da sabedoria,

e o povo aproveitará o cêntuplo;

bane o "amor", rejeita a "justiça"

e o povo recuperará o amor de sua gente;

bane a astúcia, rejeita o "utilitarismo",

e os ladrões e mercenários desaparecerão (36).

Como essas três coisas só têm contato externo são inadequadas.



O povo precisa de quem ele possa depender:

revela teu Eu (37) comum,

contém tua Natureza Original,

refreia teu egoísmo,

encurta teus desejos (38).





XX. O MUNDO E EU



Bane o saber e as aflições acabam.

Entre "ah!" e "ora !"

quanta diferença existe?

Quanta diferença existe

entre o "bom" e o "mau"?

Aquilo que os homens temem

na verdade é para ser temido;

Mas, ai de mim! Tão longe ainda está o despertar!



Os povos do mundo estão em festa

como se estivessem comendo as oferendas do sacrifício,

ou subindo as colinas durante a primavera.

Somente eu me sinto fraco como um desempregado,

ou um recém-nascido que não pode ainda sorrir,

desgarrado como alguém que não tem lar.



Os povos do mundo têm bastante para se poupar,

porém eu sou como alguém posto de lado,

meu coração precisa ser como o de um louco

que se tornou enlodoado, nebuloso!



Os vulgares se sentem sábios, luminosos;

somente eu me sinto estúpido, confuso.

Os vulgares se sentem inteligentes, seguros de si mesmos,

somente eu estou deprimido,

à mercê das coisas como as ondas do mar,

incerto, aparentemente sem rumo.



Os povos do mundo têm um propósito,

somente eu pareço obstinado, extravagante,

eu somente sou diverso das outras pessoas,

sabendo inferir o valor do sustento da Mãe Natureza (40).



XXI. AS MANIFESTAÇÕES DE TAO



Os sinais de grande Virtude (41)

partem de Tao.



A coisa que se chama Tao

é ardilosa, esquiva.



Esquiva e ardilosa.

embora latentes dentro dela estejam formas.

Ardilosa, esquiva,

Embora latentes dentro dela existam objetos.

Funda e escura,

embora latente dentro dela esteja a força da vida.

A força da vida sendo verdadeira,

latentes dentro dela tem que estar as provas.



Desde os dias de antanho até o presente

suas denominações (manifestadas em formas) nunca cessaram,

e através das quais nós podemos ver o Pai de Todas as Coisas.

Como posso porém saber a forma do Pai de Todas as Coisas?

Só através das próprias Coisas! (42)





XXII. A FUTILIDADE DA LUTA



Ceder é preservar-se por inteiro.

Vergar é manter-se ereto.

Esvaziar-se é estar cheio.

Ser destruído é renovar-se.

Estar desejoso de algo é possuí-lo.

Possuir demais é cair na confusão.



Por isso o Sábio abraça o Absoluto (43)

e torna-se o modelo do mundo.

Ele não se revela

e, todavia, é transparente (44).

Ele não se justifica

e, todavia, sua fama é extensa.

Ele não se ufana de si próprio,

e, todavia, todo mundo lhe dá crédito.

Ele não se enaltece

e, todavia, é o dirigente entre os homens.



E porque ele não disputa com ninguém

no mundo ninguém também o agride.



Não é bem verdade, tal qual os antigos pregam,

"ceder é preservar-se por inteiro?" (45)

Assim é ele preservado e o mundo inteiro lhe rende homenagens.





XXIII. IDENTIFICAÇÃO COM TAO



A Natureza é de poucas palavras:

eis porque um aguaceiro não chega a durar uma manhã inteira.

Uma tempestade não se prolonga por todo o correr de um dia.

De onde é que ambos vêm?

Da Natureza.

Mesmo a Natureza não dura muito em suas expressões.

Que poderiam desejar de menos os seres humanos?





Portanto assim é:

aquele que segue Tao com Tao está identificado.

Aquele que segue a Virtude (Teh) está identificado com a Virtude.

Aquele que abandona (Tao) se identifica com o abandono de Tao.

Aquele que com Tao se identifica

Por este benvindo

Bem como o que se identifica com a Virtude

por ela é bem recebido.

E quem se identifica com o abandono

O abandono também se alegra de saudar a sua vinda.

Quem não tiver bastante fé

não será capaz de reger a fé de seus semelhantes.





XXIV. A BORRA E OS TUMORES DA VIRTUDE



Aquele que se põe de pé na ponta dos dedos não se apruma com segurança.

O que exagera seus passos (46) não caminha bem.

O que se revela a si mesmo não é luminoso.

O que procura se desculpar não tem nomeada.

O que se gaba a si próprio não merece crédito.

O que se orgulha não é chefe entre os homens.

Estes aos olhos de Tao

são chamados "os tumores e a borra da Virtude",

que são coisas nauseantes.

Por isso o taoísta os repele.





XXV. OS QUATRO MODELOS ETERNOS



Antes do Céu e da Terra existirem

só havia uma nebulosa:

silenciosa, isolada,

suspensa, sozinha e imutável,

eternamente evoluindo sem decair,

digna de ser a Mãe de todas as Coisas.

Não sei o seu nome

mas me dirijo a Tao.

Se fosse forçado a dar-lhe um nome qualquer eu chamaria a "Grande",

Ser grande implica estender-se pelo espaço;

Estender-se pelo espaço implica em ter longo alcance

e ter longo alcance implica na reversão ao ponto de partida.



Portanto, Tao é Grande,

Grandes são o Céu e a Terra

e toda autoridade também é Grande...

Eis as Quatro Grandezas do Universo,

o Rei incluso entre elas.



O homem modela-se a si mesmo pela Terra.

A Terra, pelo Céu.

O Céu, por Tao.

E Tao pela Natureza (47).





XXVI. SERIEDADE E FRIVOLIDADE



A seriedade (48) é a raiz da leviandade;

a Serenidade é mestra da Precipitação.



Daí o Sábio trabalhar o dia inteiro

embora nunca descuide de sua carroça de provisões (49).



No meio das honrarias e das glórias,

vive cômoda e imperturbavelmente.

Como pode o governador de um grande país

tratar ar com desprezo o seu corpo na corte?



Na desprezível frivolidade o equilíbrio se perde

Na precipitação o autocontrole se escapa.





XXVII. O FURTO DA CLARIDADE



Um bom corredor não deixa rastro.

Um belo discurso não dá margem a ataques.

Um bom calculador não faz uso de máquinas de calcular.

Uma porta bem fechada não faz uso de gonzos

e dificilmente será aberta.

Um nó bem amarrado não faz uso de cordas

e não pode ser desmanchado.



Assim um o Sábio é útil ajudando os homens;

e por tal razão não há pessoas desprezíveis.

Ele é bom salvando as coisas;

por essa razão não há coisa alguma que deva ser rejeitada (51).

- A isso é que se chama "o furto da claridade" (52).



Portanto o homem bom é o instrutor do mau.

E o mau homem é uma lição (53) para o bom.



Aquele que não valoriza seu mestre

nem ama as suas lições

desviou-se muito

e precisa ser reconduzido.

- Tal é o sutil segredo.





XXVIII. PRESERVAR-SE DA MULHER



Aquele que desconfia do Homem

mas se põe em guarda com relação à Mulher

torna-se o vale (54) do mundo.

Tornando-se como um vale do mundo

adquire o eterna poder (55) que jamais falha,

e retorna ainda à inocência da infância.



Aquele que tem Consciência da candura

mas se preserva também contra a torpeza,

torna-se o modelo do mundo.

Tornando-se o modelo do mundo,

adquire o poder eterno que nunca erra,

e retorna outra vez ao Princípio do Nada.



Aquele que é familiar às glórias e honrarias

mas se conserva na obscuridade,

torna-se o vale do mundo.

E tornando-se o vale do mundo,

apossa-se de um poder eterno que sempre satisfaz

e regressa outra vez à simplicidade pura.



Rompe com essa pureza primitiva (56)

e ela se transformará em instrumentos

que, nas mãos do Sábio,

se converterão em operários e magistrados.

Por isso o bom legislador nunca destrói.





XXIX. CONSELHO CONTRA A INTERFERÊNCIA



Há pessoas que querem conquistar o mundo

fazendo dele o que seu capricho concebe.

Vejo que nada conseguirão.

Pois o mundo é o recipiente do próprio Deus

e não pode ser amoldado aos humanos caprichos.

Aquele que o tenta desperdiça-o.

Aquele que insiste perde-se.



É que: muitas coisas avançam

umas regridem,

umas expedem calor

outras, frio (57);

Umas são fortes

outras frágeis;

umas podem quebrar

Outras, caírem.

Por isso é que o Sábio evita os excessos,

evita as extravagâncias,

evita o orgulho.





XXX. CONSELHO CONTRA O USO DA FORÇA



Aquele que se propõe a dirigir os homens por meio de Tao

deverá opor-se a toda conquista por meio das armas (58).

Pois que tais coisas devem ser refreadas.

Onde estão as armas brotam somente sarças e espinhos.

O nascimento de uma grande hoste

é sempre seguido pela destruição (59),



Portanto, o bom general atinge seus objetivos e detém-se.

Pois não ousa fiar-se na força das armas.

Ele atinge seus objetivos sem se vangloriar disso;

atinge seus objetivos sem se ufanar deles;

atinge seus objetivos sem se tornar soberbo;

atinge seus objetivos como o de uma obrigação lamentável:

atinge seus objetivos sem amar a violência.

Pois as coisas só amadurecem depois de atingir seu apogeu.

A violência será sempre contra Tao.

E aquele que é contra Tao perece jovem.





XXXI. INSTRUMENTOS DO MAL



As armas (60) são acima de tudo, os instrumentos do mal.

Odiadas pelos homens.



Portanto, o homem religioso (possuído por Tao) as evita.

Na vida civil, os cavalheiros favorecem a esquerda.

Mas, nas ocasiões militares eles favorecem a direita (61).

As armas são os instrumentos do mal.

Não são os instrumentos dos cavalheiros.

Quando o esforço das armas não pode receber auxílio,

a melhor polícia mantém-se na reserva.



Mesmo na vitória nem sempre há beleza (62)

e aqueles que chamam a isso beleza

são dos que se deliciam com a carnificina.

E quem se delicia com carnificinas

não será bem sucedido em suas ambições.



As coisas de bom presságio favorecem a esquerda.

As coisas de mau agouro favorecem a direita.

O lugar tenente do general fica de pé à esquerda.

O general fica à direita.

O que quer dizer que tudo é celebrado com cerimônias fúnebres.

As matanças coletivas são pranteadas com tristeza.

A vitória devia também ser celebrada com cerimônias fúnebres (63).





XXXII. TAO É SEMELHANTE AO OCEANO



Tao é absoluto mas não tem nome.

Embora a madeira não entalhada seja inferior,

ela não pode se reempregada por ninguém como louça doméstica.

Se reis e barões podem resguardar sua personalidade ilesa,

o mundo inteiro também pode conceder-lhes soberania de comum acordo.



Da união do Céu com a Terra

cai a chuva suave.

Independente do comando dos homens

e, para contrapeso, por cima de tudo.

A civilização humana nasceu e os nomes foram vindo (64).

E desde que os nomes apareceram

isto foi bom porque cada qual soube onde parar a repousar.

E quem sabe onde deve parar para repousar

pode eximir-se de perigos.

Tao no mundo

pode ser comparado

aos rios que correm para o mar (65).





XXXIII. CONHECIMENTO DE SI MESMO



Quem conhece os outros é sabido.

Quem se conhece a si mesmo é sábio.

Quem conquista os outros, tem músculos poderosos.

Quem se conquista a si próprio tem força.

Quem vive conformado é rico.

Quem se controla a si próprio tem força de vontade.

Quem não perde o controle pessoal perpetua-se.

Aquele cujo poder morre cedo eterniza-se em longa vida.





XXXIV. O GRANDE TAO FLUI POR TODA PARTE



O grande Tao flui por toda parte

como uma torrente, espalhando-se a torto e a direito.

Milhares de coisas derivam dele

e ele não as renega.

Quando sua obra está cumprida,

ele não se apropria da mesma,

Ele veste e nutre miríades de coisas,

embora não faça reclamos de suas posses.

Muitas vezes encarado tendenciosamente e sem paixão

ele é considerado pequeno.

Sendo a meta (66) de todas as coisas, porém, ainda não o proclamando,

ele pode ser considerado grande.

E como, para atingir seus fins, ele não proclama grandezas,

sua grandeza é um fato consumado.





XXXV. A PAZ DE TAO



Suspende o Grande Símbolo (67)

para que todo o mundo o siga,

segue-o sem ir ao encontro da desgraça,

e possas viver com saúde, paz e bem estar.



Oferece as melhores especiarias

para que o viandante se demore.

Pois que Tao é benévolo para com o paladar humano.

Olha-o, ele pode ser encarado.

Escuta-o, ele pode ser ouvido.

Recorre a ele, seu auxilio jamais falha.





XXXVI. O RITMO DA VIDA



Aquele que se sente feito para declinar do poder precisa

primeiro ser provocado a expandir-se.

O que se sente enfraquecido,

deve primeiro fortalecer-se.

O que é rebaixado,

precisa antes ser elevado novamente ao poder.

O que é expulso para longe

deve quanto antes ser repatriado.

- Esta é a Suprema Clarividência.

A fragilidade torna-se forte:

- quando o peixe pode ser mantido no fundo do tanque,

e as agudas armas da região podem ser postas de parte,

onde ninguém possa encontrá-las.





XXXVII. A PAZ DO MUNDO



Tao nunca se agita

mas através dele tudo se cumpre.

Se reis e barões podem conservar Tao,

o mundo também quer com seu beneplácito ser reformado.

Depois de reformado e posto em vias de mover-se,

deixa que se restrinja à simplicidade primitiva das coisas virgens de nomes.



A anônima pureza primitiva

é batida pelo desejo da porfia.

e pelas vergastadas dos desejos a quietude se esvai

e o mundo recupera a paz à sua própria custa.





LIVRO II



A PRATICA DO TAOISMO (68)



XXXVIII. DEGENERESCÊNCIA



O homem superior não tem segurança de suas virtudes

por isso mesmo é virtuoso.

O homem de virtude inferior só se preocupa em não perder a virtude

por isso mesmo dela é desprovido.

O homem superior não gosta de interferir

Nem mesmo por motivos ulteriores.

O Homem de virtude inferior agita-se por interferir,

Nos pequenos e grandes motivos

O homem superior derrama generosidades

sem intenções preconcebidas.

O homem superior age com justiça

Sem motivos ulteriores

Mas, quando o homem de conduta superior (69) se ergue e não encontra eco,

então ele fecha os punhos e força os outros a se moverem.



Portanto:

só depois de Tao perdido se impõe a doutrina da bondade;

só depois de perdida a bondade se levanta a justiça;

e só depois de perdida a justiça a conduta pessoal se manifesta

E vem o começo do caos.



Os profetas são ramificações de Tao

e a origem da loucura.

Todavia, o homem nobre firma-se em alicerces sólidos

e não na agulha das cumeeiras.

Ele mora no fruto

e não na tentativa das florescências.

Por isso sabe rejeitar esta e obter aquele.





XXXIX. O TODO ATRAVÉS DAS PARTES



Em tempos que já se foram, outrora, havia aqueles que eram possuídos pelo Uno;

através da posse do Uno o Céu se esclarecia,

através da posse do Uno a Terra se estabilizava,

através da posse do Uno os deuses se espiritualizavam,

através da posse do Uno os vales transbordavam,

através da posse do Uno todas as coisas viviam e cresciam,

através da posse do Uno, príncipes e duques eram guindados à nobreza pelo povo.

- Assim era como cada um se tornava.



Sem claridade o Céu poderia cair,

sem estabilidade a Terra poderia tremer,

sem poder espiritual os deuses poderiam ruir,

sem coesão na plenitude os vales poderiam estalar,

sem o dom do poder da vida todas as coisas pereceriam,

sem o poder enobrecedor, reis e barões se destroçariam no pó,



Então a nobreza passou a depender do sustentáculo do homem do povo,

e a elevação de uns depende do rebaixamento de outros.

Eis porque príncipes e duques se intitulam "órfãos", "solitários", "indignos".

Não é verdade que eles dependem do sustentáculo do homem do povo?

Com efeito, desmancha as peças de um carro de guerra,

e o carro deixa de existir (70).

Melhor que tilintar como o jade

é ressoar como o eco das montanhas.





XL. O PRINCÍPIO DA REVERSÃO



Reverter é a ação de Tao.

A gentileza é a sua função.

As coisas deste mundo vêm do Ser,

e o Ser vem do Não- Ser.





XLI. VIRTUDES DO TAOÍSTA



Quando os mais altos elementos humanos ouvem a verdade de Tao

eles se esforçam por praticá-la.

Quando essa verdade é ouvida por medíocres,

eles fingem tê-la percebido sem tomar conhecimento dela.

Quando a ultima escória chega a ouvir a verdade de Tao

rebentam em gargalhadas

- e se ela não se risse isto seria a negação do próprio Tao.



Assim ficou estabelecido este dito:

"Quem entende o Tao parece entorpecido pela compreensão;

Quem progride nessa compreensão de Tao parece andar para trás;

Quem busca Tao nas alturas parece andar para cima e para baixo".



As verdadeiras virtudes parecem o côncavo de um vale;

a brancura mais branca parece manchada;

os grandes caracteres parecem deficientes;

os temperamentos sólidos parecem inseguros;

os mais dignos parecem contaminados.

Os grandes espaços não tem cantos;

os verdadeiros talentos custam a amadurecer;

a boa música é dificilmente ouvida;

a Forma Perfeita não tem contorno;

Assim é o Tao oculto dentro do seu próprio nome.

E é este Tao o adepto do poder que auxilia e dá o remate final a tudo.





XLII. O HOMEM VIOLENTO



O Tao gerou o Um

O Um gerou o Dois.

O Dois gerou o Três.

O Três gerou as dez mil coisas.

O universo criado carrega o Yin atrás e o Yang adiante.

Através da união de princípios penetrantes a harmonia é obtida.



Ser "desvalido, "solitário" e "indigno" é o que o homem mais detesta,

E, todavia, reis e duques assim se intitulam, com tais nomes.

Às vezes as coisas são beneficiadas quanto afastadas para longe,

e sofrem quanto mais perto estão.

Outros ensinam esta máxima;

que eu também quero ensinar:

"O homem violento deve morrer de morte violenta".

Máxima que eu olharei como uma mestra mental.





XLIII. A MAIS DELICADA SUBSTÂNCIA



A mais sutil substância do mundo

marcha através da mais pesada

Aquela que não tem formas penetra a que não tem fendas.

Através disto é que eu compreendo o valor da não- interferência (71)

As pregações sem palavras

e o benefício da não- interferência

não tem comparação no universo.





XLIV. VIVA SATISFEITO



A fama e o amor de si mesmo, qual dos dois é mais querido?

Qual dos dois é mais digno, o egoísmo ou o apego aos bens materiais?

A renúncia pessoal ou a renúncia dos bens, qual o maior perigo?

Na verdade, aquele que mais gasta é o que mais ama,

aquele que mais acumula é o que mais perde.

O homem contente não encontra a desgraça;

aquele que sabe quando deve parar não cai no perigo.





XLV. A SERENA QUIETUDE



A maior perfeição confina-se com a imperfeição (72).

e seu uso nunca é alterado.

A maior abundância parece mesquinha,

e seu gasto jamais decairá.

Aquilo que é reto parece desviado;

a maior inteligência assemelha-se à estupidez.

a maior eloquência parece balbuciar.

O movimento que vence o frio

é vencido pela imobilidade que o torna calor.

Quem é firme e sereno torna-se guia do universo.





XLVI. CAVALOS DE CORRIDA



Quando o mundo está de acordo com Tao,

os cavalos de corrida passam à retaguarda para puxar carroças.

Quando o mundo não vive de acordo com Tao

a cavalaria abunda nos campos da região.



Não há maior maldição que o descontentamento.

Nem pecado maior existe do que a ambição.

Assim sendo, aquele que se contentar com o simples contentamento

viverá sempre satisfeito.





XLVII. A PROCURA DA SABEDORIA



Sem cruzar as portas alheias

ninguém pode saber o que sucede no mundo.

Sem olhar por todos as janelas,

não se pode ver o Céu de Tao.



O mais adiantado corre atrás da sabedoria,

e o mais atrasado é quem a alcança.

Por isso o Sábio aprende a correr sem rodopiar,

e compreende tudo sem ver,

atingindo seus fins sem nada fazer.





XLVIII. A CONQUISTA DO MUNDO PELA INAÇÃO



O discípulo da sabedoria estuda dia - a - dia;

o discípulo de Tao perde-se dia a dia.

Pela contínua renúncia

consegue-se que as coisas acabem correndo por si.

Nada fazendo tudo acaba sendo feito.

Aquele que conquista o mundo muitas vezes o conseguiu pela inação (73),

Quando alguém é compelido a fazer alguma coisa (74),

é porque o mundo está pronto muito além de sua conquista.





XLIX. O CORAÇÃO DO POVO



O Sábio não tem opiniões decididas nem sentimentalismos (75),

porém, olha as opiniões e os sentimentos do povo como seus.



O que é bom eu declaro: é bom.

O que é mau eu também declaro: é bom.

Esta é a bondade da Virtude.

Creio nos homens honestos

e também nos mentirosos.

Esta é a Fé da Virtude.



O Sábio vive no mundo pacificamente, harmoniosamente,

Os povos do mundo são trazidos para dentro de uma comunidade afetuosa,

e o Sábio os contempla como se fossem seus próprios filhos.





L. A DEFESA DA VIDA



Independente da vida chega a morte.

Os órgãos da vida são treze (76);

Os órgãos da morte são também treze.

O que o homem envia para a morte nesta vida são também treze.

Como pode ser assim?

Porque com a intensa atividade multiplica-se a vida.



Já disse que quem sabe preservar bem sua vida

não encontra tigres nem búfalos selvagens na terra,

nem é vulnerável às armas no campo de batalha.

Os chifres do búfalo selvagem não têm poder contra ele;

contra ele são inúteis as garras do tigre;

as armas do soldado não podem levar vantagem sobre ele.

Como pode ser assim?

Porque ele está acima da morte (77).





LI. A VIRTUDE MÍSTICA



Tao dá-lhes vida.

Teh (a Virtude) protege-os.

o mundo material lhes dá forma.

As circunstâncias eventuais os completam.

Por conseguinte, todas as coisas do universo adoram Tao e elevam Teh.

Assim Tao é adorado e Teh exaltado

sem influência de ninguém e de acordo com todos.



Por isso, é que Tao lhes dá vida,

Teh os ampara,

fazendo-os crescerem, desenvolvendo-os,

dando-lhes um refúgio para viverem em paz,

alimentando-os e abrigando-os.

Ela lhes dá vida e nada lhes cobra.

Ajuda-os e não se apropria deles.

É superior e não usa de repressão contra eles.

- Eis no que consiste a Virtude Mística.





LII. A POSSE DO ABSOLUTO



Foi nos começos do mundo

que pode ser interpretado como a Mãe do Universo.

Pela Mãe nós podemos conhecer os filhos.

E depois de reconhecer os filhos conservar a Mãe.

Assim a vida inteira de cada um pode ser preservada de perigos.



Tapa todas as fendas,

fecha todas as portas

e a vida inteira de cada um ficará sem máculas.



Abra todas as fendas,

cuida somente de teus interesses,

e a vida inteira de cada um estará acima da libertação.



Aquele que pode enxergar o pequenino é clarividente.

O que pode manter-se pela afabilidade é forte.

Aproveita a claridade

é volta à clarividência -

para que mais tarde não te sejam causadas perturbações.

- Isto é que é apoderar-se do Absoluto.





LIII. PILHAGEM



Se eu fosse possuído pela Severa Ciência,

ao transitar pela Estrada Real (de Tao),

eu evitaria os atalhos.

A Estrada Real é fácil de ser transitada,

mas o povo gosta de encurtar as distâncias.

Os cortesãos estão enfatiotados de novo,

enquanto os campos permanecem baldios,

e os celeiros vazios.

Entretanto, trajados de túnicas bordadas,

e envergando belas espadas,

entupidos de boas bebidas e comedorias

eles rebentam de saúde e de prosperidade.

- Isto significa empurrar o mundo para a pilhagem.

E não é isso uma corrupção de Tao?





LIV. O INDIVÍDUO E O ESTADO



Quem está firmemente estabelecido não é facilmente derrubado.

Quem tem garras seguras não deixa escapar as coisas.

De geração em geração os sacrifícios dos seus antepassados prosseguirão

sem fracassar.



Cultivada no indivíduo a Virtude se conservará autêntica.

Cultivada na família, tornar-se-á frutuosa.

Cultivada na aldeia, multiplicar-se-á.

Cultivada no Estado, prosperará.

Cultivada no mundo, tornar-se-á universal.



Por conseguinte:

de acordo com as virtudes individuais, julga o indivíduo;

de acordo com as virtudes da família, julga a família;

de acordo com as virtudes da aldeia, julga os aldeães;

de acordo com as virtudes do Estado, julga o Estado;

de acordo com as virtudes do mundo, julga o mundo.

Como é que eu posso saber que o mundo é assim?

Por mim (78).





LV. AS VIRTUDES DA CRIANÇA



Quem é rico (79) de virtude

é como a criança.

Nenhuma serpente a picará,

nenhum animal selvagem a atacará,

nenhuma ave de rapina lhe deitará as garras.



Seus ossos serão flexíveis, seus músculos elásticos, seus dedos fortes.

Desconhecendo a união entre o macho e a fêmea, seus órgãos permanecerão intactos,

e seu vigor não será esbanjado.

Grita o dia inteiro, todavia sua voz nunca enrouquece,

Vivendo sua harmonia plena.

Para conhecer a harmonia é preciso estar de acordo com o eterno,

e conhecer o eterno chama-se ser iluminado.

Todavia, melhorar de vida é tido por mau presságio.

Deixar as emoções (80) seguirem seus impulsos chama-se segurança, pois a maturidade vem depois da velhice.

Isto é contra Tao,

E quem fica contra Tao perece jovem.





LVI. ACIMA DAS HONRARIAS E DAS DESGRAÇAS



Aquele que compreende não se expande.

Quem se expande nada percebe.

Calafeta todos os seus vãos,

fecha suas portas, engrossa suas muralhas,

desmancha suas intrigas,

amortece suas luzes,

afoga seus tormentos,

- eis o que é a Mística Unidade (81).



Então nem amor nem ódio poderá atingi-lo.

Proveitos ou perdas não o alcançarão.

Honras e desfavores não poderão afetá-lo.

De modo que ele é o único honrado do próprio mundo.





LVII. A ARTE DE GOVERNAR



Governa um reino normalmente.

E normalmente rompe uma batalha por meio de táticas estratégicas (82)

Conquista o mundo não fazendo coisa alguma.

Como posso saber que isto é assim?



Por este meio:

Quanto mais proibições há mais o povo empobrece.

Quanto mais armas ferinas existem

Mais o caos prevalecerá dentro do Estado.

Quanto mais engenhos técnicos (83).

mais coisas perniciosas serão inventadas.

Quanto maior número de leis

maior quantidade de ladrões e saqueadores.



Por isso o Sábio diz:

Eu nada faço e os povos se reformam (84) por si próprios

Ama a quietude e os povos se endireitam por si mesmos.

Não negocio e os povos enriquecem por sua própria conta.

Não tenho inquietações e os povos continuam simples e honestos como sempre.





LVIII. GOVERNO INDOLENTE



Quando o governo é indolente e estúpido,

seu povo é despojado.

Quando o governo é eficiente e alerta,

seu povo mostra-se descontente.

O erro está no caminho da fortuna.

Pois a riqueza é a máscara da desgraça.

Quem seria capaz de prever suas derradeiras conseqüências?

Tal como é nunca existiria o normal,

visto que o normal se converteria imediatamente no falso (85),

e o bom se converteria no sinistro.

Tão longe a humanidade se transviou!



Por isso o Sábio é probo (de firmes princípios), porém sem exagerada pureza,

cultiva a integridade porém, sem espezinhar os outros (86),

é correto sem ser voluntarioso,

e brilhante sem chegar a ofuscar.





LIX. SÊ COMEDIDO



Ao dirigir os negócios humanos, não há regra melhor que ser comedido (87)

Ser comedido é prevenir.

Prevenir é estar preparado e forte.

Estar forte e preparado é antecipar a vitória.

Antecipar a vitória é ter infinita capacidade.

Ter infinita capacidade é estar preparado para dirigir um país,

e só a arte (Mãe) de governar um país tem vida perene.

Isto é estar firmemente plantado, ter longa duração,

rumo aberto para a imortalidade e a visão duradoura.





LX. COMO SE GOVERNA UM GRANDE PAÍS



Governa um grande país como se fosses um peixinho (88).

Aquele que dirige o mundo de acordo com Tao

acabará achando que os espíritos perdem seu poderio.

Não é que os espíritos percam seu poder,

mas sim que eles cessem de prejudicar o povo.

E não é somente porque eles cessem de prejudicar o povo,

mas que o Sábio, ele próprio, também não prejudique o povo.

Quando um e outro deixam de se prejudicar mutuamente

o poder da Virtude paira entre ambos.





LXI. OS GRANDES E OS PEQUENOS PAÍSES



Um grande país deveria ser o delta das regiões inferiores,

tornando-se o ponto de junção do mundo,

e o lado feminino do mundo.

O poder feminino torna-se másculo pela quietude,

e alcança a finalidade receptiva pela serenidade.



Portanto, se um grande pais se coloca sob um pequeno,

ele absorve (89) o menor;

se o menor se coloca sob a proteção do grande,

ele absorve a grandeza deste.

Por isso muitos se colocam em baixo plano para incorporar outros,

outros já estão naturalmente por baixo e os dominam.

Que é que um grande país deseja senão influir em outros?

E o que é que um pequeno pais quer senão tornar-se digno da proteção dos grandes?



Considerando que ambos desejam exatamente a mesma coisa,

os grandes países deveriam se colocar o mais baixo possível.





XLII. O TESOURO DO HOMEM BOM



Tao é o misterioso segredo do universo.

o tesouro do homem bom.

e o refúgio do mau.

Belos provérbios podem ser vendidos no mercado,

nobre conduta pode ser presenteada como uma dádiva.

Embora exista muita gente ruim,

quem os rejeitará?

Portanto, ao coroar-se um imperador,

ou pela nomeação de Três Ministros

em vez de adereços de jade ou parelhas de cavalos,

é melhor enviar um tributo a Tao.

De que modo os Antigos louvavam a Tao?

Não diziam eles que "fossem procurados os condenados e perdoados?"

É Tao, portanto, o tesouro do mundo.





LXIII. O DIFÍCIL E O FÁCIL



Aperfeiçoa-te pela renúncia.

Atenta para a inação.

Prova o que não tem sabor.

Quer seja ele grande ou pequeno, muito ou pouco,

recompensa o vício com a Virtude.

Negocia com a dificuldade enquanto ela é fácil.

Negocia com a grandeza enquanto ela é pequena.

Os problemas difíceis do mundo

precisam ser resolvidos enquanto eles são abordáveis.

Os grandes problemas do mundo

precisam ser solucionados enquanto eles são pequenos.



Portanto, o Legislador somente não traficando com grandes causas

atinge a grandeza.



Aqueles que levianamente fazem uma promessa

acharão freqüentemente duro manter sua fidelidade.

Aqueles que fazem pouco caso de certas coisas,

encontrarão bastas dificuldades.

Daí o Legislador encarar as coisas como se elas sempre fossem

difíceis e, por este mesmo motivo, nunca encontrar dificuldades.





LXIV. COMEÇO E FIM



Aquele que mente com freqüência é facilmente apanhado.

Aquele que ainda não se manifestou é fácil de atrair.

Aquele que se mostra frágil como o gelo depressa se dissolve.

Aquele que se faz ínfimo é fácil também de se espalhar.

Trata com cada coisa enquanto ela está visível.

Censura a desordem antes que ela se torne notória.

A árvore mais copada de frutos começou por uma sementinha.

As lendas regionais começam sempre por um torrão de terra.

As jornadas de mil léguas começam sempre pelo pé de alguém.



Quem se imiscui no alheio corrompe-se.

Quem tudo quer abarcar, escorrega.

Por isso o Bom Legislador nunca interfere nem se perde,

e porque ele não se apropria do alheio também não resvala do poder

Os interesses humanos são freqüentemente estragados por muitos espertalhões juntos

quem for cuidadoso no fim como no começo

evitará o fracasso.



Por conseguinte, o Bom Legislador não alimenta ambições,

e valoriza pouco os objetos difíceis de ser obtidos.

Ele aprende o que lhe não foi ensinado,

e restitui o que a multidão perdeu.

Assim ele pode acompanhar a Natureza

sem a presunção de interferir em seu curso.





LXV. A GRANDE HARMONIA



Os Antigos que sabiam como seguir Tao

não pretendiam esclarecer o povo,

mas conservá-lo ignorante.



A razão é que era difícil ao povo viver em paz,

ficando de posse de muito saber.

Aqueles que procuram governar um país pela sabedoria,

são os malditos da nação.



Aqueles que não buscam governar um país pela sabedoria,

são os seus bem-aventurados.

E os que conhecem esses dois princípios

também conhecem o Antigo Testamento,

e nunca ignoram que o Antigo Testamento

é denominado a Mística Virtude.

Quando essa Mística Virtude se torna clara demais e inatingível,

as coisas revertem à sua origem.

e daí é que provém a Perfeita Harmonia.





LXVI. OS SENHORES DAS PLANÍCIES



Como é que os grandes rios e mares se tornam os senhores das Planícies?

Tornando-se úteis de tanto rastejar no chão.

Foi assim que eles se tornaram os senhores das Planícies (90).

Portanto, a fim de se tornar chefe dos povos,

cada qual precisa falar como os seus inferiores,

A fim de ser o primeiro no meio do povo,

cada um que marche na sua retaguarda.

Por isto é que o Legislador se mantém de cima

e o povo não sente o seu peso;

caminha na sua frente,

e o povo não lhe deseja desgraça alguma.

Daí os povos do globo se alegrarem de mantê-lo sempre nas alturas

porque ele não entra em atritos

e ninguém no mundo pode se desavir contra ele.





LXVII. OS TRÊS TESOUROS



Todo o mundo diz: meu mestre (Tao) parece-se grandemente com um louco.

Porque ele é grande; logo se assemelha à loucura.

Se ele não se parecesse com a loucura,

ele de há muito se teria verdadeiramente diminuído!



Tenho Três Tesouros:

e os mantenho seguros, a salvo:

O primeiro é o Amor (91)

O segundo é o Desprendimento (92)

O terceiro é a Modéstia em não querer ser o primeiro do mundo



Através do Amor ninguém tem medo;

através do Desprendimento ninguém se afobe (e usem força)

através da modéstia, não presumindo em ser o primeiro do mundo,

cada qual desenvolve seu talento sazonando-o lentamente.



Se alguém abandona o amor e a coragem,

abandona o desprendimento e a reserva das forças,

abandona o lugar na retaguarda e lança-se para a frente,

este é um homem morto!



Porque o amor é vitorioso quando ataca,

e invulnerável quando se defende (93)

O Céu arma com amor

aqueles que ele não deseja ver destruídos.





LXVIII. O MÉRITO DE NÃO DISPUTAR



O soldado corajoso não é violento.

O bom lutador não perde o controle.

O grande conquistador não porfia por ninharias.

O bom orientador de homens coloca-se sempre em posição inferior.



-Eis o Mérito de não disputar,

denominado capacidade de dirigir homens,

de construir indivíduos sólidos,

que outrora tinham de emparelhar com o Céu.





LXIX. MIMETISMO



Há uma máxima de estratégia militar:

"Eu não quero ser o primeiro a invadir, mas antes ser o invadido (94).



Não ouse marchar uma polegada para a frente sem antes dar um passo à retaguarda.

Isto é marchar sem formações,

sem cerrar os punhos, sem se encarregar de agressões frente a frente,

é armar-se sem armamentos (95).

Não há catástrofe maior que subestimar o inimigo.

Subestimar o inimigo pode levar-me à perda de meus tesouros (96).

Por isso, quando dois exércitos igualmente equipados se encontram,

a vitória cabe sempre ao herói anti- homicida (97).





LXX. NINGUÉM ME CONHECE



Meus ensinamentos são muito fáceis de entender e ainda mais fáceis de praticar.

Mas ninguém pode entendê-los nem praticá-los.

Em minhas palavras há princípios.

Nos interesses dos homens há sistemas.

E porque eles não sabem disso

também não me reconhecem.

Embora haja alguns poucos que sabem quem sou,

e, portanto, eu seja distinguido.

É que o Homem Prudente usa uma roupa grosseira por fora, mas carrega jades dentro do seu peito.





LXXI. LOUCURA



Quem sabe que não sabe nada é um sábio.

Quem pretende saber o que é que não sabe está louco.

E quem reconhece a loucura como loucura não é louco.

O Homem Prudente não é um louco.

Porque ele reconhece a loucura como loucura.

Logo não pode estar louco.





LXXII. SOBRE O CASTIGO



I (98)



Quando o povo não teme a força (99)

Então (segundo a crença comum) uma força superior desce sobre ele.



Não desprezes suas moradas,

não menosprezes sua progênie.

É devido a não te desgostares dele

que não te desgostarás de ti próprio.

Por isso mesmo o Sábio que se conhece a si próprio não se revela a ninguém.

Ama-se a si mesmo porém não se exalta.

Por conseguinte, rejeita a força de um e do outro aceita a gentileza.





LXXIII. SOBRE O CASTIGO



II



Quem tem a coragem de ousar tu matas.

Quem tem a coragem de não ousar, deixas viver.

em ambos

há algumas vantagens e desvantagens.

Mesmo que o Céu se desgoste com certas pessoas

quem saberia quem está para ser morto e por que?

Portanto, mesmo que o Filósofo olhe isso como questão difícil,

O Caminho do Céu (Tao) é bom de ser conquistado sem disputas,

recompensando vícios e virtudes sem palavras,

obtendo sua aparição sem invocações,

alcançando resultados em desígnios óbvios.

A rede do Céu é larga e vasta,

com malhas grandes mas através das quais nada escapa (100).





LXXIV. SOBRE O CASTIGO



III



O povo não tem medo da morte;

por quê pois ameaçá-lo com a morte?

Admitindo-se que ele temesse a morte

e nós pudéssemos agarrar e matar os turbulentos,

quem se encarregaria disso? (101)



Freqüentemente acontece que o executante é morto.

E tomar o lugar do executante

é o mesmo que manejar a machadinha do mestre carpinteiro,



Aquele que maneja a machadinha do mestre carpinteiro

raramente escapa ao dano por suas próprias mãos.





LXXV. SOBRE O CASTIGO



IV



Quando as populações têm fome

é porque seus governantes comem demais o imposto sobre o grão.

Portanto, os desenfreamentos das multidões famintas

são devidos à ingerência dos seus administradores.

Eis porque elas são desenfreadas.

O povo não tem medo da morte,

porque ele vive ansioso para realizar uma vida.

Eis porque ele não tem medo da morte.

São aqueles que não interferem no seu modo de viver

que estão aptos para elevar a vida.





LXXVI. DUREZA E BRANDURA



Quando o homem nasce é frágil e delicado.

Quando morre ele fica rígido.

Quando as coisas e as plantas estão vivas, são delicadas e tenras.

Quando elas morrem, tornam-se secas e quebradiças.

Portanto a dureza e a rigidez são companheiras da morte

e a doçura e a gentileza são as companheiras da vida.



Portanto, quando um exército é cabeçudo (102) acaba perdendo a batalha.

Quando uma árvore é dura ela deve ser posta abaixo.

O grande e o bruto pertence à esfera subterrânea.

O delicado e suave pertence à sua superfície (103).





LXXVII. VERGANDO A FRONTE



O caminho do Céu (Tao)

não se assemelha à preparar um arco?

A fronte se abaixa e a base se levanta.

Assim a corda excessiva é encurtada, e a curta esticada.

Assim é o caminho do Céu que arrebata aos que têm demais

para dar a quem não tem bastante.

Não é o mesmo que o caminho do homem:

este retira de quem nada tem

para dar como tributo aos que vivem abarrotados.

Quem é que pode dispor de bastante para distribuir com o mundo inteiro?

Somente o homem de Tao.

Portanto o Sábio influi sem nada esperar,

cumpre sua missão sem fazer reclamos do seu crédito,

por não tem pretensões a passar por superior.





LXXVIII. NADA MAIS FRACO DO QUE A ÁGUA



Nada existe mais fraco do que a água

porém, nada lhe é superior quando ela se torna forte,

pois não há substituto para ela.

Sua fraqueza torna-se força,

e a gentileza transforma-se em rigidez,

sem que ninguém o saiba

nem possa imitá-la.



Por isso é que o sábio diz:

"Quem acolhe dentro de si as calúnias do mundo

sabe preservar o Estado.

Quem sustenta os pecados do mundo

é o soberano do mundo."

Palavras corretas que parecem erradas.





LXXIX. ACERTOS DE PAZ



Ao desmanchar um grande rancor pode-se estar certo de haver deixado outro atrás.

Como pode isso ser olhado como satisfatório?

Por isso é que o Homem Prudente é o que tenta entrar em acordo consigo (104)

e não lança a culpa sobre a facção oposta.

O homem virtuoso é o que procura conciliar.

O errado é o que exige obrigações (105).

Porém, "o caminho do Céu é imparcial

e marcha somente para o homem virtuoso" (106).





LXXX. PEQUENA UTOPIA



Consenti na existência das pequenas populações,

onde os subsídios dos bons sejam dez, cem vezes maiores do que eles precisem.

Deixai que os povos vivam suas vidas (107) sem emigrar para longe.

Embora haja carruagens e embarcações

e ninguém lá esteja para fazê-las correr.

Embora existam arsenais e alimentos

sem ocasião para ostentá-los.



Deixai o povo de novo atar suas enfiadas para fazer seus cálculos

deixai-o saborear suas comidas

embelezar seus trajes,

alegrar-se em seus lares.

divertir-se com seus costumes.

Quando há concórdia entre vizinhos uns zelam pelos outros,

só quando eles podem ouvir o ladrar dos cães e o cocoricar dos galos de seus vizinhos,

podem os povos findar seus dias sem jamais fugir para outros países





LXXI. O CAMINHO DO CÉU



As palavras verdadeiras não são sonoras.

As palavras sonoras não são verdadeiras.

O bom cidadão jamais tergiversa.



Aquele que tergiversa nunca é um bom homem.

O sábio pode ignorar muitas coisas. [mas]

Aquele que sabe demais nem sempre é sábio.

O sábio não acumula para si próprio.

Ele vive para os outros,

e assim é que se enriquece.

Dá tudo o que tem aos outros,

e assim alcança a abundância.

O Tao do Céu

abençoa sem jamais ferir.

O caminho do sábio

é buscar a perfeição sem atritos.

_____________________________

(1) Hsuãn palavra que equivale a "místico" e "misticismo". O Taoísmo é também conhecido como o Hsüanchiao ou a "Religião Mística".

(2) Miao também pode ser traduzido por "Essência"; significa "o maravilhoso", o "definitivo", o "logicamente irreconhecível", "a quintessência", ou a "esotérica verdade".

(3) Exaltar os legisladores é uma tática tipicamente dos adeptos de Confúcio.

(4) "Coração vazio" ou esvaziado, na língua chinesa significa "inteligência aberta", sinal de cavalheiro culto. Através desse livro, "vazio" e "cheio" são usados para significar "humildade" ou "orgulho", respectivamente.

(5) Wei, "agir", é freqüentemente usado neste livro para demonstrar "interferência". Wu wei ou "inação" praticamente significa a não ingerência, ou seja, o exato equivalente de "laissez faire".

(6) Ch'ung "vazio", "brando", "informe", "enchendo todo o espaço". Outra versão, chung "Tao é um cristal vazio".

(7) Doutrina do naturalismo, o Legislador alcança a imparcialidade e, freqüentemente, a indiferença da própria Natureza.

(8) O centro, a natureza original do homem. É um importante princípio taoísta.

(9) O Vale, da mesma forma que o fole, é um símbolo taoísta de "vacuidade", "concavidade".

(10) O princípio do yin, o negativo, o receptivo, o passivo.

(11) Aquele que faz uso das leis da natureza atinge seus fins "sem esforço".

(12) Dar vida aos outros através de suas próprias transfigurações.

(13) Segundo Laotse, a idéia do Ying, "plenitude" ou "cheio até às bordas", associada ao orgulho, é condenada como o oposto de "despojamento" ou "humildade", porque o sucesso contém as sementes da derrota.

(14) O capítulo inteiro é rimado.

(15) Parte importante do Taoísmo

(16) A criança é símbolo de inocência, imagem comum encontrada também em Chuangtse; às vezes a imagem do "bezerrinho novo" também é usada.

(17) O yin, o receptivo o passivo, o quieto.

(18) Este trecho é também todo rimado.

(19) Lit. "Cada qual que se resguarde."

(20) "Belly" aqui refere-se ao ser interior, o inconsciente, o instintivo; e "olho" refere-se ao ser exterior, ou ao mundo material.

(21) Interpreta-se como a vida e a morte. O texto de Chuangtse confirma esta interpretação.

(22) Lit. "corpo".

(23) Discípulos jesuítas consideram essas três palavras (pronunciadas na antiga China como se pronunciam i-hi-vei) uma interessante coincidência com a palavra hebraica "Jahve".

(24) Chi, palavra que significa "a tradição da espécie humana ","sistema" e também "disciplina".

(25) Outro texto antigo, as "regras".

(26) Tini, "espessura", comparada à madeira maciça, idéia associada à pureza inata no homem, em oposição à "finura", associada à "astúcia ,ao "super- refinamento", sofisticação.

(27) P'u, princípio Taoísta importante, isto é, o que ainda não foi talhado, embelezado, a bondade e honestidade nativas do homem. Geralmente usado para significar simplicidade, lisura de coração e de vida.

(28) Hun, "enlameado", misturando-se livremente, isto é, "indo ao léu", "sem seleção", Sabedoria Taoísta: um sábio se assemelharia a um louco.

(29) Conceito de auto - satisfação.

(30) Hsu: vazio, vácuo. Mas pelo uso atual, esse vazio" não significa senão "Humildade" e "serenidade", princípios centrais do Taoísmo.

(31) Ch'ang, o "estável", a lei do progresso e da decadência, da necessária alternação dos opostos, podendo ser interpretada como a "lei universal da natureza" ou "a lei íntima do ser", "o verdadeiro ser" (hsingming chih ch'ang), ambas de essência idêntica.

(32) Wang; uma possível tradução é "cosmopolita", isto é olhar o mundo como um só.

(33) T'ien, céu ou natureza. Ambos "t'ien" e Tao na linha seguinte, são claramente usados como adjetivos; daí a tradução "de acordo com" "Tien" mais comumente significa "natureza" ou "natural".

(34) Em alguns textos lê-se: "O povo não sabe".

(35) Doutrinas essenciais de Confúcio que de ordinário traduzem pessimamente "benevolência" e "inteireza".

(36) As idéias dos Caps. 18 e 19 estão plenamente desenvolvidas por Chuangtse (Cap. X, "Abrindo cofres").

(37) Su, o desataviado, inculto, a qualidade inata, o simples ego; originalmente "fundo de seda lisa", em oposição a desenhos superpostos coloridos; dai a expressão "revelar", "realizar", su.

(38) Os oito caracteres nessas quatro linhas acrescentam ensinamentos práticos ao Taoísmo.

(39) Wei, e o, alternativa de desaprovação.

(40) Imagem da criança de peito simbolizando o poder de sugar da Mãe Natureza.

(41) Teh, como manifestação do Tao, o ativo aspecto de Tao, o principio moral, tr. por Waley como "poder".

(42) Formas manifestas.

(43) O Absoluto, ao qual todas as coisas passageiras revertem.

(44) Ming tem dois significados: "claro" (luminoso, deslumbrante) e "clarividente" (sábio, perspicaz).

(45) Outro provérbio chinês: "Franqueai vossas fronteiras toda a vida e nunca perdereis um bezerro; cedei vosso caminho aos transeuntes e durante a vida inteira não perdereis um passo".

(46) Correndo, esforçando-se, o ambicioso.

(47) Tse- jan, lit. "por si sozinho", "feito por si mesmo", "aquele que é tudo à sua própria custa".

(48) Literalmente "sólido", tendo a Terra por modelo. Em Chinês, "espessura", "solidez" de caráter, significando "honestidade", "generosidade", associado à idéia de estabilidade de humor e durabilidade, enquanto "fragilidade" ou "ligeireza" de caráter, significando "leviandade" ou "aspereza" está associado com a ausência do permanente bom humor.

(49) Um trocadilho no meio da frase contendo a palavra "pesado".

(50) Correndo em torno.

(51) O Sábio usa cada coisa de acordo com seu talento.

(52) Hsi, entrar ou segurar por meios escusos como uma invasão, um e à noite, uma emboscada, etc. A idéia penetrante aí é de fazer uso do conhecimento das leis da natureza para obter o melhor proveito. Ver explicação ampla por Chuangtse, especialmente na Parábola do cozinheiro do Hui.

(53) Tse, material não trabalhado ainda, em bruto, recursos, ajuda, algo que se seduz para proveito próprio, como quem dá uma lição.

(54) Ver Cap. VI. O vale ou ravina é símbolo de Princípio Feminino, o poder receptivo e passivo.

(55) Teh.

(56) P'u, peça de madeira tosca, símbolo da Natureza virgem, intacta.

(57) Lit. "expelir", "aspirar". Sigo o resumo de Waley que se ajusta perfeitamente ao significado.

(58) O caráter chinês usado para simbolizar "militar" é composto de duas partes:

"parada" e "armas".

(59) Estas seis linhas são de Waley, pois não poderiam ser melhores.

(60) Outra versão, "belas armas". Ping significa ambas as coisas, "soldados" ou "armas".

(61) Ritos cerimoniosos. A esquerda é sinal de bom agouro, criação, a direita de mau presságio, da destruição.

(62) Outra versão igualmente boa, "gabar-se", quem gaba a vitória".

(63) Um dos 5 Ritos Capitais de Chouli: as ultimas 5 linhas menos 2, são lidas como comentário interpelado ao texto por engano. A prova é patente: (1) "lugar-tenente general" e "general" são palavras anacrônicas, pois tais termos não existiam até a era de Han. (2) O comentário de Wang Pi escapa nesse cap., tendo escorregado para o seguinte por erro do copista. Ver Cap. 69. Cf. Mencius, "O melhor guerreiro deveria receber o pior castigo"; e de novo: "Somente quem não ama a carnificina pode unificar um império".

(O grifo é da tradutora, pois estas frases não se referem a este rodapé e sim a outro, n. 69, no poema n. 38, Livro II).

(64) Os nomes implicam diferenciação de coisas e perdem a original essência de Tao.

(65) Realmente só pode ser comparado ao mar ou aos rios que procuram repouso no mar.

(66) Lit. "Rendez-vous".

(67) Símbolo da Natureza, Céu e Terra. este cap. consiste em três palavras rimadas, em linha.

(68) O nome "Livro de Teh" (virtude) foi dado à Segunda Seção por Hoshang Kung no reinado de Han Wenti (A. C. 179-197).

(69) Li Doutrina de Confúcio de controle e ordem social, caracterizada por rituais; significa também cortesia, boas maneiras.

(70) Outra versão comumente aceita através da palavra substituta no texto: "Verdadeiramente, o mais alto prestígio dispensa louvores." Fora da substituição forçada de palavras, esta versão não concorda com o texto.

(71) Influência penetrante do espírito, que tudo alcança em contraste com as atividades que criam obstáculos por sua própria conta. "O sem forma", etc., é largamente desenvolvido por Chuangtse. (Cap. III).

(72) Porque ela assume uma forma maleável, de acordo com as circunstâncias.

(73) Pela influência moral.

(74) Ordenando o povo a respeito.

(75) Hsin, Lit. "coração". Ambos pensamento e sentimento são indicados por esta palavra. É impossível a expressão: "um coração decidido".

(76) De acordo com Han Fei, são as quatro extremidades e as nove cavidades. Outra versão ortodoxa é a dos "três décimos".

(77) Imortal.

(78) De dentro de mim mesmo, este significado será melhor desenvolvido no cap. seguinte, visto a divisão do capitulo não ser original.

(79) Lit. "espesso", "pesado".

(80) Hsin, lit. "mente" ou "coração".

(81) Tudo afunda no Uno.

(82) Cheng, o normal, o correto, o direito; ch'i, o anormal, o fraudulento, o espantoso.

(83) Ch'i, a mesma palavra usada para significar "tática da surpresa", que implica na desaprovação do que não é conveniente à legislação de um reino.

(84) Hua, tocado, transformado, "civilizado" por influência moral. A melhor explicação do "nada fazer".

(85) Ver observação 82.

(86) Afastando a corrupção por leis artificiais, estatutos e punições.

(87) Nunca faças demais.

(88) Deixa-o a sós, ou o peixe se transformará numa posta de tanto rodopiar em torno.

(89) Ch'u, tomar, conquistar, sobrepujar, vencer.

(90) Ver cap. 6.

(91) Ts'é, amor delicado (associado à idéia de maternidade).

(92) Chien, lit. "frugalidade", "ser econômico"; ver Cap. 59.

(93) Ver Cap. 31, 69.

(94) Invasor e invadido, lit. "hóspede" e "anfitrião". É possível ler isso diversamente pela supressão da freqüente expressão quando: "Quando eu não ousar ser o invasor, então terei de ser o defensor".

(95) Antes, sentir-se nesta condição, ou seja, a condição subjetiva da inferioridade. Isto é totalmente razoável na filosofia da camuflagem de Laotse, a mais antiga do mundo. Cf., a grande eloqüência é como a gagueira, etc., cap. 45.

(96) Possivelmente os "Três Tesouros", cap. 67.

(97) O que odeia matar. Ver cap. 31. O texto correto de Yü Yüeh daria essa versão "O homem que condescende com a vitória".

(98) Caps. 72, 73, 74 e 75 são estreitamente ligados quanto ao sentido e similitude de construção.

(99) Wei, força militar ou autoridade; algumas vezes também usado em conexão com "Anjo de Deus". Outra interpretação "quando o povo não teme a Deus, então o Anjo de Deus desce sobre ele. Porém isso não assenta bem ao contexto. Ver os dois caps. seguintes, sobre a futilidade do castigo, especialmente as duas primeiras linhas, cap. 74".

(100) Isso tornou-se atualmente um provérbio chinês: "A virtude é sempre recompensada e o vicio punido".

(101) Observar a similitude de construção com as cinco primeiras linhas do Cap. 73.

(102) Ch'ang significa "rígido", "forte" e "cabeçudo".

(103) Como os troncos e os ramos.

(104) Sinal de inferioridade num convênio.

(105) Comentário de Wang P'i: "enunciando erros".

(106) Uma antiga citação que tem aparecido em muitos textos.

(107) Lit. "morte".